quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sobre o medo de porcos selvagens.

Como a chuva recomeçou repentinamente há cinco minutos e eu fui forçada a cancelar minha tão esperada caminhada pelas trilhas da floresta, venho aqui (com as cortinas abertas para a vista bonita que é a chuva entrecortada por raios de sol) contar o que se passou depois que o meu drama foi embora.

Os planos de ir ao cinema se concretizaram. Saí um pouco mais cedo de casa, passeei pelo centro e comprei algumas coisas de que estava precisando. Dentre elas, selos. Céus, que coisa cara! Não consegui nem disfarçar a cara de estudante falida quando o moço do correio me falou o preço das cartas para o Brasil. Ele deu uma risadinha e disse: "ninguém mandou morar tão longe". Deu vontade de mostrar a língua, sair correndo e deixar os selos pra trás. Felizmente, a sanidade mental me socorreu, eu paguei em um contentamento descontente o que devia e ri junto com o moço. O que há de se fazer? Como eu poderia me privar de imaginar os sorrisos de vocês ao abrir a caixa de correio de manhã e haver algo que não seja conta de cartão de crédito? Isso é impagável. Por isso, abdico de alguns luxos para escrever a vocês sem problemas.

O cinema. Então. Fui eu sozinha e chuvosa, rumo ao tão esperado cinema. Não sabia onde ficava, por isso andei bastante até encontrar. Mesmo assim, cheguei muito antes do horário de abertura do lugar e fiquei plantada na porta, tentando enxergar alguma coisa lá dentro - mas, dessa vez, com guarda-chuva. Me senti uma criança em dia de Natal ou em dia de lançamento do livro novo do Harry Potter. Quando o moço gordinho apareceu para abrir a porta de vidro, eu sorri de orelha a orelha e ele não sorriu de volta. Problema é dele. Comprei meu ingresso e, viva de expectativa, entrei na sala de cinema mais esquisita que já vi. As cadeiras são dispostas central e lateralmente, sendo que alguns assentos estão na diagonal. O teto era repleto de lâmpadas elípticas e coloridas e tinha um bar (fechado) lá dentro. Tentei me sentar na fileira diagonal para ver como era, mas a simples ideia de não olhar diretamente para a tela machucou os meus olhos. Confortavelmente assentada em um lugar tipicamente brasileiro, uma surpresa: a Michelle apareceu para me fazer companhia. Achei que ninguém iria, porque ninguém tinha respondido minha mensagem. Nós não entendemos uma frase completa do filme, mas, como boas leitoras de imagens, rimos bastante. O filme era Kindsköpfe (esse novo com o Adam Sandler que está em cartaz aí também). Os filmes aqui são todos dublados em alemão, assim como todos os programas de TV. O que eu não sabia era que a voz dos dubladores era parecida com a voz dos atores. Eu podia jurar que era o próprio Adam Sandler falando em alemão. Fantástico. E sincronizado.

Depois do cinema, fomos para a casa do Luke. Ele tinha acabado de explodir um frasco de detergente na cozinha e pediu para que voltássemos dali a meia hora. Fiquei fazendo hora em casa e, quando vi, estava bastante atrasada. Chegando ao jantar, todo mundo já tinha comido, então eu tive que enfrentar aquele momento constrangedor em todos te observam enquanto você come. Fora isso, foi divertido. Os americanos queriam que eu mostrasse música brasileira e, quando coloquei Chico e Caetano, eles pediram por algo mais agitado. E aí uma cena inusitada se pintou: eu mostrei axé, pagode, samba e funk para eles. Preciso falar que eles adoraram o funk carioca e que todos sabiam o "parapapapapa" de Tropa de Elite? Eu mereço. Depois, para me fazer rir mais ainda, aprendi uns passos de salsa.

Ontem de manhã a Gabi veio me buscar em casa para irmos ao banco. Abri uma conta e depois passeamos no centro, onde eu achei uma loja em que tudo é vendido a 1 euro. Comprei alguns utensílios de cozinha e um porta-retrato. Agora tenho meus pais, meu irmão, a minha avó, a Taiga, o Gabriel e o Carvalho na parede perto da minha cama. Além disso, ganhei um vaso de planta, então meu apartamento já ganhou uma carinha melhor. À tarde, depois de almoçar um macarrão parafuso de espinafre com molho de queijo e cenoura no Mensa, fui buscar meus resultados da prova de nivelamento. Logo na entrada do prédio, o Johnatthan (o menino que não falou comigo na fila, lembram? Já conheci) estragou a surpresa e disse que eu tinha passado pra turma IId. É a penúltima, uma antes da mais avançada de todas. Fiquei TÃO feliz! Agora tenho muito o que estudar, para tirar o DSH, que é um certificado requisitado para estudar em qualquer universidade alemã. Mesmo que eu não vá ficar por aqui, é uma meta boa e o aprendizado vai ser muito. À noite me encontrei com Matt, Luke e Michelle para irmos ao Heimbar da Universidade. Fomos os primeiros a chegar, mas com o tempo o lugar foi enchendo, as pessoas foram bebendo até sentirem liberdade para dançar. Dançando até uma e meia da manhã, nos esquecemos que os ônibus já tinham parado de passar. Resultado? Caminhada de meia hora de volta para casa. Na chuva. No frio. No escuro. Na floresta. Foi muito divertido, apesar de eu ter ficado aguardando a hora em que um porco selvagem saltaria do meio do mato para me fazer em pedacinhos. Cheguei segura em casa e foi a melhor sensação do mundo me secar e deitar na cama quentinha.

Hoje o dia amanheceu ensolarado, com pancadas de chuva esparsas, como diria o Jornal Nacional. Fui à primeira aula, que não passou de uma explicação sobre como será nosso semestre no curso de alemão. Já vou ter duas semanas de férias em Outubro, que é quando eu vou para Barcelona (passagem comprada!). No final da tarde o Charly veio aprender português e trouxe consigo uma caixa cheia de pastas e organizadores, um furador de papel, muitos clips, mais tábuas de cozinha e talheres, três taças e uma garrafa de vinho, além de um poster para colorir minha parede. A Gabi não podia ser mais atenciosa comigo.

Por fim, como vocês podem perceber, estou bem. As coisas começam a melhorar e eu finalmente estou conseguindo me distrair. No mais, afirmo que receber um email pela manhã faz toda a diferença do mundo. Obrigada.

10 comentários:

  1. eu fico tao empolgada q vc tah se gostando dai, e q as coisas tao dando super certoooo!!!!!
    e aula de salsa é tao divertidoooooo

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  2. Se vc não fosse vegetariana era o porco quem teria que ter medo... mas enfim, essa e outras boas caminhadas te aguardam! Aproveite!
    Que bom que sua mãe substituta te paparica tbm!
    Mamãe

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  3. adoro o comentário da sua mãe.
    buscando inspiração aqui, em meio a vários compromissos (prova, ChuEQ...), pra escrever sua carta. =]
    agora sim, tudo dessas notícias parecem AVENTURAS.
    continua bem. (:

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  4. Que delicia!
    falei que vale a pena. Aproveita a chuva, que aqui tá mais seco que o deserto do Saara em tempos que o capeta vai visitar.

    aaaah to adorando ler suas aventuras, confesso que comecei a ler bem atrasada. Sabe como eu sou né jojoh?
    mas já estou atualizadíssima.
    e com endereço em mãos.
    beijo pequena

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  5. Nunca supus que gostaria tanto de morar na parede! All in all we're just all bricks in the wall! Haha!
    Fiota, muito bem! Dá gosto ver o desenvolvimento da criança! Bem que me disseram que criávamos os filhos para o mundo!
    Beijo!

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  6. Também quero macarrão parafuso de espinafre com molho de queijo e cenoura pra ficar bem q nem a Joh D=

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  7. Você realmente achou INUSITADO que eles gostaram foi de funk!? uhahuahuauha Djó, entender português é o pré requisito mínimo pra alguém que quer começar a entender e admirar o sublime que é Chico Buarque!! No mais, que legal!! Entre na rotina alemã e se joga! =D

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  8. Céus! Quando uma brasileira tem a decência de tentar mostrar para os estrangeiros que nossa cultura também tem música de qualidade, eles não querem. Que pena, haha.

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