segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Começo das aulas e energias negativas.

Os últimos dias foram bem corridos, exceto por domingo, que foi quando eu, de fato, dominguei. Fiquei em casa o dia inteiro, cozinhei, vi filme e comi cookies enquanto caia uma tempestade linda lá fora. Muitos trovões e relâmpagos, muita água contra o vidro e, depois, o ar fresco delicioso que traz o cheirinho da terra e da floresta para o meu quarto. Confesso que não sei bem o que contar sobre o resto do fim de semana, porque não quero que vocês fiquem cansados de tanto ler chatice cotidiana. Afinal, aqui tenho uma rotina tão entediante como qualquer outra, afora alguns episódios interessantes. Vou procurar me ater a eles.

Sexta passada foi sinistra em todos os sentidos que vocês conseguirem atribuir à palavra. O dia começou bem, com duas aulas legais de escuta e leitura. Ambas as professoras são pessoas muito disponíveis, competentes e extremamente sorridentes. Vamos ter que ler mil coisas e escrever mais ainda. Depois de momentos constrangedores e dinâmicas de apresentação em grupo, conheci uma bielorrusa, um romeno, mais dois búlgaros, muitos chineses, dois camaroneses (?), uma tailandesa e, até que enfim, um brasileiro. Se sei o nome de todos eles? Basta me imaginar tentando pronunciar, na tonalidade certa, o nome dos chineses para saber a resposta. E o pior é que todos eles me chamam pelo nome. Ainda me acostumo.

À tarde se abateu sobre mim um cansaço esquisito, um peso nos ombros. Mesmo assim teimei em sair à noite, porque o Johnathan me convidou para jantar com um amigo dele e o Matt disse que me ligaria mais tarde para nos encontrarmos. Chegando no lugar combinado, esperei por algum tempo e pensei que tinha levado bolo. Fui passear pela cidade, sem saber o que fazer. Acabei voltando depois de uma hora para o ponto de encontro e eis que chegam os dois atrasados. Meu humor só piorou quando fomos comer um Döner do outro lado da cidade e fomos perseguidos na rua por vários turcos bêbados, que me convidaram para ir ao Mc Donald's e me jogaram cantadas inaceitáveis. E nada de o Matt ligar. Já estava no ponto de ônibus para voltar para a Waldhaus, quando ele ligou. Fui para onde os americanos estavam e não aguentei ficar nem meia hora, tamanho o cansaço. No ônibus de volta para casa, alguém apertou acidentalmente o botão de parada e, como ninguém desceu, o motorista desligou o ônibus, se levantou e disse com a cara mais demoníaca já vista: "tem alguém apertando o botão toda hora sem descer. Vou deixar vocês esperando sete minutos para ver se vocês aprendem". E então ele simplesmente desceu do ônibus, de madrugada, e fumou um cigarro durante exatos sete minutos. Negativa como eu estava, previ meu sequestro por um motorista maluco e meu coração faltou sair pela boca. Quando finalmente desci do ônibus, estava ainda paralisada e, de repente, me vi sozinha na estradinha que cruza a floresta, escutando os besouros azuis e observando lesmas mortas pelo caminho. Eu tinha a impressão de estar sensível a tudo. Ao vento, aos insetos, ao movimento sinistro da floresta de madrugada. O ar gelado não me deixava respirar direito e começou a chover forte. Mais uma noite, cheguei completamente molhada em casa. Ainda não sei como não adoeci.

Sábado o dia amanheceu esbanjando calor e raios de sol e segui em direção à estação, onde me encontraria com a Michelle, o Johnathan e o Kevin. Pegamos o Bahn e fomos para a cidade da França que faz fronteira com Saarbrücken. Ainda estava pesada pelo cansaço do dia anterior, mas consegui aproveitar o passeio. A cidade, Sarreguemines, é uma gracinha e limpou a minha mente. Foi fantástica a sensação de pisar em um pedacinho da França e em outro da Alemanha ao mesmo tempo. Fomos a um museu de porcelana e cerâmica, que abriga um lindo jardim de inverno e uma estátua de um cara que não consegue lamber o cotovelo. Coitado. Fora isso, passeamos pelo rio, vimos algumas construções interessantes e eu consegui pedir a minha comida em francês.




Voltando para casa, dormi um pouco e quase me esqueci de que tinha convidado várias pessoas para ir à boate. Nos encontramos antes da casa do Luke e fomos. Arrependimento. A boate é grande, as pessoas estavam super animadas e a música era razoável, para padrões de clubes noturnos (o que não é lá minha praia). Mas algo muito errado aconteceu: eu comecei a pensar demais. Pensei na razão que leva as pessoas a ficarem completamente fora de si, pensei no porquê de tanta bebedeira e de danças públicas de acasalamento e comecei a ficar com nojo. Eu simplesmente não conseguia relaxar. Quis ir embora, mas não queria estragar a festa dos meninos, que estavam dançando loucamente. Esperei um pouco, dancei de um lado para o outro, fui ao banheiro mil vezes para me livrar da música e das pessoas suadas e, por fim, me joguei em um sofazinho para descansar. Lá pelas duas e meia, o John também quis ir embora, o que me deixou muito satisfeita. Fomos eu, ele e o Luke, mais uma vez a pé. Dessa vez, o caminho era mais longo e eu já não aguentava mais a conversa dos dois, que discordavam sobre a direção de casa e tentavam se convencer de que não estavam bêbados. Fui, então, calada para casa, pensando mais um pouco em coisas que não deviam nem visitar meus pensamentos. Dormi muito mal, tive pesadelos e acordei ensopada de suor. Acho que preciso de uma sessão de descarrego.

Hoje acordei melhor e cheguei cinco minutos atrasada na aula, por ter perdido um ônibus. Preciso encontrar um jeito de aprender a acordar mais cedo. A aula foi divertida e os dois professores de hoje são ótimos. Um é super sério, mas usa exemplos fantásticos para explicar gramática. O outro é uma piada e fica apontando uma vara para a gente enquanto levanta as sobrancelhas. Não é o caso de ter medo. A coisa se tornou ainda melhor quando recebemos um colega novo, australiano. Ele usava meias rosa-choque e ri sozinho. Vou tentar conversar com ele amanhã. À tarde fui ao centro para comprar um ferro de passar roupas e acabei voltando para casa com uma torradeira. Preciso me concentrar.

Amanhã vamos cozinhar um jantar de aniversário para o Matt e depois iremos para o Heimbar aqui no prédio. Sorte que quarta-feira é meu dia livre e eu posso dormir até a hora que eu bem entender, porque disso eu já sinto falta. Enquanto essa semana voa, aguardo ansiosamente pelo fim dela, que é quando iremos ao Oktoberfest. Ein Prost!




10 comentários:

  1. fica amiga do australiano, eu fui com a cara dele pela descrição! hahahaha!

    e você vai ao oktoberfest? eu quero saber sobre a sua experiência lá com mínimos detalhes!

    é incrível o número de roubas em que podemos nos meter quando não temos referência de lugares ou festas para recusar convite para elas, né? o bom que a gente acaba aprendendo rapidinho! ;D

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. " Mas algo muito errado aconteceu: eu comecei a pensar demais." eu tive uma avalanche de superposições de flashbacks com a minha pessoa dizendo exatamente isso. :P

    a gente precisa aprender a se desligar um pouco às vezes.. "go with the flow".. mesmo que a situação seja meio agressiva à gente. é que frequentemente a gente acaba fazendo a coisa ser mais agressiva à gente do que ela de fato é. e, de bônus ainda, esse mal estar acaba manchando as coisas não-ruins também... horrível. tenta evitar esse estado.

    enfim... tô alegrão por você, pelo Oktoberfest! arrebenta! xD


    ahh! novidade!: teve o encontro de ex-aluno ontem né. aí a gente saiu passeando pelo colégio, e eu achei um dos portõezinhos de grade que dão pras torres (aqueles que ficam do cada lado da capela) aberto! xD a gente foi parar lá no terraço, entramo na caixa d'água... tinha uma escadinha moh estilo Prince of Persia, que acho que devia ir lá pro alto da torre mesmo (tinha até uma cordinha dependurada, que devia ser do sino xP ), mas ninguém teve coragem de subir não. era Prince of Persia demais :P


    :***

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  4. eu já tive essa sensação broxante em boates... é paia, porque dificilmente tem como sair desse humor.

    animação aí, joyce, parece que você anda vendo mais do que vivendo, cuidado! =]

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  5. Cuidado com essa coisa de comprar torradeira em vez de ferro de passar roupa!
    Vc pode trocar gato por lebre, alemão por australiano e aí por diante...
    Hahahahaha...!!

    Bjão de adivinha quem: Papai de ferro que torra sua paciência de vez em quando (:>)

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  6. "porque não quero que vocês fiquem cansados de tanto ler chatice cotidiana."

    Por mim, tá bom demais! Adoro acompanhar cada milímetro do seu dia nessa terra distante!

    Estou feliz com as suas conquistas aí! Fino demais!

    Breve sua cartinha chegará!!

    bjoo! =D

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  7. é muito assustador quando vc fala que volta sozinha pra casa de madrugada de ônibus ou andando. sério.

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  8. Hahahahahahahahahaha Adorei o motorista de ônibus!!!

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  9. Se eu não soubesse do que se trata esse blog e essa sua experiência, diria que você inventou tudo o que contou sobre sexta feira. Mas eu acredito, mesmo sem conseguir imaginar besouros azuis e coisa e tal.
    Ah, fica amiga do australiano de meias rosas! HAHAHA!

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