sábado, 4 de setembro de 2010

Multa em Trier e bizarrices.

Acabei de cozinhar pela primeira vez aqui. Fiz arroz e salada de alface, tomate e queijo camembert. Vale ressaltar que é muito difícil fazer arroz para uma pessoa só e que, por isso, ele ficou empapado e salgado. Além disso, a verdura que eu assumi ser alface estava rotulada simplesmente como "salada" no supermercado, então desconfio que não seja alface, mesmo. Fora isso, foi bom comer algo leve que passasse longe de ser batata ou macarrão. Agora só preciso me lembrar de comprar azeite e orégano, que é pra ficar mais parecida com a salada de casa.

Afora a empreitada culinária, escrevo hoje para contar que ontem fui ao centro à noite com o pessoal que conheci aqui na moradia. Fomos ao Coyote, bar bem popular por aqui, para jogar conversa fora e quebrar o clima de constrangimento que pairava no ar, digno de pessoas que se veem pela primeira vez. Por incrível que pareça, eu era a mais tagarela. Quando o silêncio reinava, eu puxava assunto com qualquer um, sobre qualquer coisa e a qualquer momento. A cerveja ajudou a desinibir o búlgaro e os americanos. Os outros nem precisaram de álcool, incluindo eu mesma. No meio da noite, decidimos mudar de bar.


No caminho, nos deparamos com uma banda bastante incomum. O visual era meio cigano, os instrumentos eram exóticos, o que incluía um cara tocando serrote. SERROTE. Ele dispunha a ferramenta entre as pernas, como um violoncelo e se beneficiava de uma vibração frenética dos músculos para produzir um som lindíssimo. Fiquei, no mínimo, meia hora parada lá, no meio da praça, boquiaberta. Enquanto isso, meus coleguinhas internacionais conversavam e nem prestavam atenção na maravilha que estava ali, logo ao lado. Acho que eles estão tão acostumados com os músicos de rua que isso não os toca mais. Eu, por outro lado, olho tudo com a ingenuidade de quem nunca esteve fora do país, com olhos sedentos por novidade. Eles acharam a banda esquisita demais e disseram que ninguém compraria os CDs. Eu compraria, se não tivesse esquecido minha carteira em casa.


Depois disso, entramos em um outro bar, o Langenfeld. Era super elegante e nada parecido com o público do Coyote. Obviamente, muito mais caro. De qualquer forma, isso não foi empecilho para nós, universitários desinibidos - alguns naturalmente, outros com ajuda etílica. No meio do bar, eis que começamos um show de bizarrices. "Ei, eu consigo lamber o cotovelo, olha" (sim, essa sou eu). Aí o americano responde: "Eu desloco esse osso das costas" e TIRA A CAMISA em pleno restaurante. Depois de muitos dedos contorcidos e línguas dobráveis beneficiadas pela genética, foi só alegria. Tenho muitas fotos, obviamente impublicáveis, dessa noite. Todos com a pior careta possível. No final das contas, depois de ter ganhado fama de tequila lover sem ter bebido uma tequila sequer, nós parecíamos velhos amigos. Voltamos para casa andando, em uma caminhada tranquila de meia hora, com um vento frio no rosto e uma sensação boa por estar finalmente indo me aconchegar na cama.



O dia de hoje começou com um convite inesperado no ônibus a caminho do centro, ontem. O Styben me convidou para ir a Colônia com ele hoje, para uma festa grande a céu aberto que duraria o dia inteiro. Eu, sem pensar duas vezes, disse que iria. Mas nós ainda não sabíamos como. Foi então que o Ivan disse que tinha vindo para a Alemanha dirigindo. 20 horas de viagem a partir da Bulgária. Isso significava que ele tinha um carro e, felizmente, estava doido para conhecer outras partes da Alemanha. Em um instante, acordo feito. Iríamos a Colônia no dia seguinte.

Eu fui dormir com a sensação de que essa viagem não aconteceria. Não sei se porque tinha sido tão repentina a ideia ou se porque eu estava com medo de viajar com duas pessoas que eu mal conhecia. Premonição correta, já que minha intuição não costuma falhar. O problema, porém, não foi nenhum dos previstos: dormimos todos até muito tarde e quase não daria tempo de aproveitar, porque o destino era distante. Em um minuto, resolvemos mudar a rota e ir para Trier, a cidade mais antiga da Alemanha. Nenhum de nós sabia como sair de Saarbrücken, mas depois de muito perguntar, errar caminhos e dar voltas, conseguimos encontrar a Autobahn. Sempre em frente, diziam todas as placas. Trier estava logo ali, a 97 km de distância apenas. Em uma hora chegamos ao rio Mosel, que é enorme e lindo. Pouco tempo depois, visumbramos uma cidade linda e repleta de turistas.

A aventura continuou quando nós, estrangeiros perdidos e despercebidos, entramos de carro em uma zona exclusiva para pedestres. Como a Lei de Murphy nunca falha, um policial nos parou e o Ivan levou sua primeira multa desde que tirou carteira. Foi triste. Depois procuramos muito por um estacionamento e não encontramos. Resolvemos, então, parar o carro no estacionamento do hospital. E, para completar a cara de pau, entramos no hospital só para usar o banheiro. Quando os ânimos se acalmaram, nos dirigimos à tal zona de pedestres e eu comi um Subway especial para crianças. Era grande o suficiente para mim e vinha com um brinquedo, um cookie e um saquinho de balas. Os meninos morreram de rir da minha felicidade por uma coisa tão pequena.

Estômago satisfeito, iniciamos a nossa empreitada de procurar pontos turísticos, já que nenhum de nós sabia o que tinha em Trier além da Porta Nigra, portal construído pelos romanos em 200. Sem nem precisar pedir informações, nos deparamos com um palácio imenso com um jardim maravilhosamente florido. Nos sentamos ali por alguns minutos e tiramos algumas fotos (com o celular, porque a babaca aqui fez o favor de esquecer a câmera em casa). Em seguida, fomos à catedral. Empolgados com o fato de que "catedral" é dita da mesma forma em português, búlgaro e espanhol, nem imaginávamos a imensidão que aquela construção representava. Mais uma vez, fiquei boquiaberta. Literalmente. Fiquei alguns minutos parada, olhando para o teto tentando entender a genialidade do ser humano. A catedral é um monstro em tamanho e em beleza. Nela estão calabouços, um órgão enorme e muitas esculturas finamente trabalhadas. Nenhuma foto conseguiria representar a sensação que tive ao entrar ali.

Depois de me impressionar muito com tudo, digo que com certeza volto lá para tirar fotos decentes, porque o lugar merece. De lá, Ivan, Styben e eu trouxemos planos de dirigir até Paris e, finalmente, Colônia. Provavelmente iremos juntos ao Oktoberfest, em Munique.

Enfim, algo que se assemelha a um lar.





12 comentários:

  1. acho que posso compartilhar a tristeza de cozinhar pra uma pessoa só :(
    enfim, eu gosto de fazer arroz upado com alguma coisa, lentilha ou brocolis, principalmente, fica bem bao :D

    boas viagens pra vc ai, joooooooh!!!!!!!

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  2. Adorei o caso do serrote! Inacreditável, achei q só na Argentina tinha malucos tocando na rua...e o subway para crianças....kkk, só vc Joyce!

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  3. viajar de carro de um país a outro deve ser o modo mais proveitoso possível e a viagem mais linda. curte muito aí, Joh! :)

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  4. Tudo já parece muito bom, e nem levou tanto tempo assim, viu?

    Tive dó do seu amigo levar multa e fiquei realmente curiosa pra ouvir o som que sai de um serrote o.o


    aproveita muito


    lululu :*

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  5. Joh atravessou o atlântico pra se sentir como na UFMG: sem lugar pra parar o carro.

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  6. ah, joh! faz arroz upado: com lentilha, brocolis, linhaça, ervilha, sei lá! (um de cada vez né, td junto vai ficar no minimo estranho) compra uns temperinhos diferentes tb, pq arroz branco puro com salada nao pode ser bom em nenhum lugar do mundo! =******

    to votando compulsivamente no seu blog e no do quito =D

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  7. Djó, em frances, "alface" se fala "salade". Então talvez seja alface mesmo, já que ai na sua cidade fala-se frances tb ne? Ou nao? Enfim, salade é alface... huauhahuauhauh

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  8. "Enfim, algo que se assemelha a um lar."

    e nem levou tanto tempo assim, viu? [2]

    :)

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  9. quantas aventuras em tão pouco tempo!! isso é só o começo!! aproveita demais, joh! <3

    Camilla :)

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  10. Bonequinha, seus amigos se surpreenderão com vc sempre! Colocar a língua no cotovelo é moleza para
    quem tem tanto talento! Dá-lhe Joh!!!
    Mamãe

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