segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Paris: c'est le paradis.

Quarta-feira passada, depois de muita confusão devido à inexperiência de arrumar malas para o inverno, saí de casa rumo à estação principal. Um café inesperado e agradável, meia hora de espera tensa, um trem de alta velocidade. O TGV partiu à noite, de forma que não pude enxergar nada lá fora, aumentando exponencialmente a minha ansiedade. Estava indo finalmente para Paris e mal podia acreditar. Afoguei o nervosismo em um pão velho (sim, isso foi muito feio) e, quando percebi, estava lá. Descendo do trem, o Alexandre me esperava na estação para o melhor abraço dos últimos tempos. Pegamos o metrô rumo a Bel-Air, onde ficaríamos hospedados. Ao chegar no apartamento, a sensação de estar em um prédio tipicamente parisiense. Escadas de madeira e portas antigas - como bem lembrou o Alexandre, a atmosfera remetia ao prédio o Ewan McGregor em Moulin Rouge. O quarto do nosso adorável anfitrião parisiense era super bonito e bem decorado e, apesar de pequeno, nos abrigou muito bem.

Tentamos planejar o dia seguinte do começo ao fim, mesmo já conhecendo secretamente a força da improvisação. Acordamos e fomos para um café-bistrô para o café da manhã. Com muita dificuldade, conseguimos pedir nossos cappuccinos, pains au chocolat e tartines. A dificuldade só foi maior na hora de pagar, porque não sabíamos chamar o garçom nem como pedir a conta. Começamos, então, a nos vestir, para que o garçom percebesse que queríamos ir embora. E essa foi a nossa estratégia até o final. Do café, seguimos à Champs-Élysées. Preciso confessar que eu tinha uma imagem completamente distorcida do local e que, por isso, era o último destino em Paris que eu planejava conhecer. Ainda bem que não deixei passar. A avenida é fabulosa! Não sei nem quais lojas se encontram lá, porque tudo o que consegui fazer foi absorver a atmosfera parisiense e mal podia tirar os olhos do Arco do Triunfo. O monumento é IMENSO e maravilhoso e fiquei com dor no pescoço de tanto olhar para cima e tentar entender como aquilo foi construído. Eu e o Alexandre resolvemos subir para apreciarmos a vista e, depois de muita escada em espiral, tonteira e falta de fôlego, chegamos ao topo e tiramos muitas fotos.


Saindo do Arco, andamos a Champs-Élysées até o fim, cruzamos o Sena, que também é enorme e possui pontes belíssimas, avistamos ao longe a Torre Eiffel e atingimos o Louvre. Paris não se cansava de me surpreender. Eu era tomada pela falsa imagem de que tudo o que havia de bonito na cidade eram os pontos turísticos e que, entre eles, haviam prédios comuns. Mas Paris é inteira uma atração e exibe orgulhosa construções monumentais que podem ser, simplesmente, a casa de alguém. Eu e o Alexandre caminhávamos boquiabertos e dávamos pulinhos constantes de alegria. Era mesmo PARIS.

Fomos à Catedral de Notre-Dame, onde o Alexandre brincou de ser corcunda. A igreja é mesmo linda e ficamos lá por alguns instantes, tagarelando sobre assuntos impróprios ao ambiente sagrado da catedral. Foi quando uma nuvem negra apareceu de repente no céu e eu pensei que cairia uma tempestade.

Andamos mais um pouco e entramos em uma lojinha de souvenirs e, depois de querer de comprar tudo e de conseguir conversar em francês com o vendedor simpático, uma surpresa: neve. Ou não? A precipitação era de gelo fininho e pequeno e nós não conseguíamos distinguir neve de granizo. O Alexandre fez o meu dia quando parou uma moça na rua e perguntou se aquilo era considerado neve. Ela morreu de rir e disse que sim, mas nós continuamos incrédulos, porque ela não caía tão leve quanto imaginávamos. Eu fiquei feliz de qualquer forma. De lá, fomos ao Jardim de Luxemburgo, cujas árvores peladas entristeciam o tão célebre senado francês. O cenário não era tão bonito quanto esperado, porque estava em obras. Fomos logo embora, com o guardinha expulsando todos os visitantes.

Do Jardim fomos procurar artigos gostosos de pâtisserie e acabamos em um café, tomando cappuccino e comendo tortinhas de framboesa e cassis. Delícia. Depois fomos procurar o Marais, o bairro da aristocracia e da população colorida francesa. Foi fácil identificá-lo quando nos demos de cara com o Hôtel de Ville iluminado de roxo e rosa. Em uma das lojas, vimos vitrines bizarras, cujas bonecas cortavam com uma tesoura a cabeça do pobre Papai Noel.


Não nos demoramos muito lá, porque estávamos cansados e o bairro não era tão divertido assim. Caminhamos para o Quartier Latin, nos sentamos em um bar e pedimos vinho e uma tábua de queijos. O Alexandre teve a chance de me ver tonta, rindo de tudo e sendo disléxica (é o que acontece quando, ao invés de se falar "crise de stress", se fala "créssi de striss"). Voltamos para casa e eu apaguei, sorrindo de orelha a orelha, sob efeito do vinho de Bordeaux e com a cabeça povoada por memórias recentes muito boas.

Sexta-feira acordei pensando que devia tentar novamente ligar para o Douglas ou para a Marcela, porque seria desaforo voltar para a Alemanha sem tê-los visto. E nada de o telefone português deles funcionar. Fui, então, com o Alexandre tomar um café e comer um croissant e, não satisfeitos (com a quantidade, especificamente), compramos uma baguete, que comemos a caminho do Montmartre. Meu coração parecia que sairia pela boca, porque eu finalmente veria o bairro onde o Amélie Poulain foi gravado. Para quem não sabe, é o filme da minha vida. Saindo do metrô e atravessando o mundo de lojinhas de souvenirs que havia por lá, avistei a Sacre-Coeur e quase tive um ataque. Podia enxergar o filme rodando na minha frente. Nos sentamos na escadaria para admirar os raios de sol que cortavam a cidade, ouvir a harpa que soava lindamente e comer alguns macarons. Era o paraíso.


Entramos na igreja, assistimos um pedacinho da missa em francês e, em seguida, fomos andar pelo bairro. Um músico tocava a trilha sonora inteira de Amélie no acordeon e eu não pude evitar: ofereci a ele o sorriso mais sincero e babão e quis abraçar o mundo (e ele também. Pena que a timidez me segurou). O Montmartre transpira arte e abriga cafés charmosos. Fomos andando bairro abaixo e, depois me muito pedir informação para franceses que não sabem de nada, encontramos o Douglas e a Marcela em frente ao Moulin Rouge. Não é nada demais, mas tiramos nossa foto charmosa e esvoaçante em frente a ele e fomos logo almoçar. Depois de comer, fomos até a parte do Sena onde fica a Torre Eiffel. Foi quando, de repente, começou a nevar. Era a primeira neve da minha vida. Em Paris. No Sena. Vendo a Torre Eiffel. Não podia ser mais mágico. Foi nesse momento, inclusive, que passei a ver a Torre como algo verdadeiramente bonito - e não como uma mera torre de televisão, a qual havia sido a minha primeira impressão.



Eu e o Alexandre fomos para a fila da Torre e subimos de elevador até o topo. As filas eram longas e o ar estava gelado, de modo que meus pézinhos congelaram dentro do All-star (eu PRECISO de sapatos de inverno, mas nada cabe em mim). Na fila, brasileiros para todo lado. Como descobrimos? Uma mulher resolveu, de repente, falar bem alto: "aaai, que dorr no rim!" e nós explodimos de rir.

A vista de cima da Torre ficou mais linda ainda quando a neve voltou a cair e escureceu. Encontramos um aquecedor e ficamos longamente apoiados nele, esperando o movimento dos dedos dos pés voltarem, admirando a cidade se pontilhar de luzes. Cidade luz mesmo. Depois da Torre, tentamos nos encontrar com a Marcela e o Douglas no Louvre, mas foi impossível. Custamos a nos decidir se entraríamos no museu ou não, já que tínhamos pouco tempo e há uma infinidade de obras a serem vistas. A dúvida foi solucionada quando descobrimos que a entrada sexta-feira à noite era gratuita para menores de 26 anos. Passeamos pelo museu despreocupadamente, parando às vezes em frente a alguma obra para admirar (ou fazer piadinha). A Monalisa não é nada de mais e eu realmente não entendo o alarde em torno dela. As outras obras da mesma sala são muito mais vistosas e o prédio do Louvre, em si, me impressionou muito mais do que a obra de Da Vinci.

Voltamos para o apartamento do Romain já bem tarde, distraídos pela imensidão do Louvre, e eu não quis sair com eles para a boate. Preferi ficar desmaiada até as dez horas do dia seguinte, o que atrapalhou meus planos de ir ao Musée d'Orsay antes de pegar o trem. Acabei tomando um café e depois passeando pela vizinhança enquanto comia uma baguete e respirava mais um pouco o ar de Paris. Eu não queria ter que vir embora. Paris me ganhou e, com certeza, voltarei em breve.

No trem de volta para Saarbrücken, uma alemã simpática ficou conversando comigo e não me deixava pegar no sono - o que me fez enxergar uma terra toda branquinha e pacífica lá fora. O que me fez esquecer as metralhadoras nas mãos dos policiais para todo lado, as promessas de atentados terroristas, o trabalho de 15 páginas que tenho que entregar antes do Natal, a guerra no Rio de Janeiro e tudo o que perturba a mente e o mundo.

Não sei como será daqui a um mês, quando a temperatura terá atingido os 20 graus negativos. É possível que já tenha me cansado de sair (e escorregar) na neve. Mas, por enquanto, não me canso de admirar a vista da minha janela. A floresta amanhece sempre branquinha e silenciosa, enquanto os flocos de neve descem sonolentos e a sensação de paz paira no ar. Hoje acordei pensativa e, apesar de ter me enervado bastante com a escolha não muito inteligente de passagens para a Itália, bastou que eu olhasse pela janela para que tudo melhorasse. E então me lembrei mais uma vez de Paris - e como poderia esquecê-la?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre o que ficou atrasado - e novas energias.

Ontem o sempre-tão-cinza céu de Saarbrücken me presenteou com um dia lindo. O sol brilhou até as quatro da tarde, destacando ainda mais um azul vibrante, quase sem nuvens. Eu, que nunca gostei de sol, consegui sair de casa sorrindo de orelha a orelha, cantarolando Chico Buarque no ônibus ("e me pego cantando, sem mais nem por quê"). E só então eu percebi que a semana tenebrosa relatada no post passado tinha servido para me fortalecer - e muito. De repente, senti crescer uma vontade enorme de curtir intensamente cada segundo que me resta aqui. Senti até vontade de prolongar o intercâmbio, pela primeira vez. Então, mesmo que o sol tenha ido embora muito rápido e que a chuva tenha voltado a reinar e que todas as folhas de quase todas as árvores já tenham caído, eu estou feliz. Feliz e na Alemanha, como eu sempre quis.

Voltando ao relato do que ficou atrasado, o fim de semana passado. O Jackson nos convidou para irmos conhecer a casa onde ele mora e a família alemã que o recebeu (tão bem). A casa fica em um dorf perto de Saarbrücken e para lá fomos eu, Lud, Allana e Ian, no sábado à noite. Chovia muito, para variar, mas isso não impediu a nossa jornada nem a alegria. Logo na chegada, duas travessas de lasanha da Maria nos aguardavam - uma delas feita para mim, sem carne. Achei uma gracinha! Comemos, conversamos e rimos bastante e depois fomos para uma reunião em um centro comunitário da cidadezinha. O Jackson havia dito que podia ser chato e só ter gente velha. O negócio é que os velhinhos, muito jovens, fizeram a nossa noite um episódio divertidíssimo. Ganhamos taças de champagne, garrafas de cerveja, muitos abraços e sorrisos e algumas danças. Voltamos para casa felizes e eu dormi imediatamente no sofá (aposto que existem fotos secretas desse momento tão singelo) enquanto os outros conversavam e bebiam.

No dia seguinte, acordei com muita dor de cabeça e não podia ser por causa das duas tacinhas de champagne. Não fazia sentido. Só mais tarde me dei conta de que era o primeiro dia de muitos de uma crise de enxaqueca. Passei o dia dividida entre dormir e ficar no silêncio de um quarto escuro ou me sentar à mesa com todos, comer bastante e rir. Escolhi ambos. Tomei um café da manhã caprichado, com geleias caseiras variadas preparadas pela Maria, voltei para cama. Acordei na hora do almoço para comer FEIJOADA. O Jackson fez o meu dia quando resolveu cozinhar feijão. Que saudades! Como dispenso a carne, comi arroz e feijão preto, assim, sem mais nada. E sorri feito boba, deu até calorzinho na alma. Nada melhor que um prato de arroz e feijão para voltar à casa por alguns instantes. Depois do almoço, dormi de novo. Acordei ainda com a cabeça explodindo e fui comer o bolo de maçã com chantilly no café da tarde. Ai, que maravilha alemã! Foi o paraíso. E... dormi de novo, até a hora de ir embora. Resultado? Minha cabeça melhorou um pouco, mas eu não preguei os olhos à noite. Paciência... Mesmo entrecortado por dores de cabeça, o fim de semana passado foi fantástico e eu me senti mais próxima dos meninos, além de ter conhecido uma família muito muito legal.





Quanto ao último fim de semana, só posso dizer, em resumo, que me diverti como nunca. Não parei em casa por mais de uma hora (a não ser para dormir). Sexta-feira fomos a Zweibrücken, debaixo de muita chuva, só para ver como era o Outlet de lá, com roupas de tudo quanto é marca imaginável, e não comprei nada, a não ser um muffin. À noite, conheci pessoas novas, provei um licor grego de anis e ervas e não gostei, saí para dançar, comi muito rigatoni e spaghetti e bebi vinhos italianos e alemães. Sábado assisti ao filme "O homem que copiava" (pela 3ª vez) no cinema, com legendas em alemão, e levei comigo muita gente boa, fiquei tonta com um copo de cerveja belga e ri muito. Prolongamos a noite em uma WG (espécie de república), vimos muitos vídeos imbecis e rimos mais um tanto. No domingo, visitei o Charly, a Gabi e o Christian, comi waffles caseiros, saí com um grupo de italianos que muito gesticulavam, e falhei miseravelmente ao tentar dançar em um clube de salsa. Andei, dancei e cantei na chuva, voltei a pé para casa muitas vezes e até agora sinto a minha perna pulsando, fabricando ácido lático. E foi assim, em um fim de semana que combinou cultura, esporte improvisado, pessoas engraçadas, bebidas interessantes, que me recuperei da enxaqueca e da ressaca emocional. É mais que certo dizer que agora uma nova fase começa. E que eu posso não querer ir embora.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Reclamação e Amsterdã.

Agora que a até então mais tenebrosa semana da minha estadia alemã aparentemente chegou ao fim, volto ao blog, para contar outras aventuras (e as desventuras, a título de desabafo). Mas antes fica aqui a minha reclamação e o registro oficial do meu atual egocentrismo: eu estou do outro lado do Atlântico, passando por dias chuvosos e escuros, vendo o sol parar de brilhar às cinco da tarde (quando ele aparece durante o dia), sozinha. Como se não bastasse, um professor maluco que acha que o mundo acadêmico gira em torno dele nos pede para ler "Os sofrimentos do jovem Werther" e para escrever uma análise sobre um poema do Goethe de no mínimo duas páginas - em uma semana. Para quem não sabe, Werther tem a linguagem mais antiga e difícil do universo, inclusive para os alemães, e é extremamente melancólico, o que influenciou o meu estado de espírito já não muito contente. Para piorar, tive conversas com resultados indesejados, perdi noites de sono, comi em dobro, tive crise de enxaqueca e perdi a vontade de fazer qualquer coisa. E aí venho ao blog, para me sentir melhor e mais querida, e percebo que quase ninguém comenta - ou sequer lê - mais. Podem pensar que é o cúmulo da carência. E deve ser mesmo, eu não me importo. Dá vontade de não mais publicar, de me desligar de toda e qualquer tecnologia, de parar de dar notícias e de sair por aí, à mercê do destino. Mas, voltando aos posts iniciais, lembro de ter dito que publicaria independentemente de quem fosse ler ou comentar. A intenção do blog é não me esquecer dos dias que estou vivendo aqui. Então, apesar da queda brusca do número de leitores e comentaristas, escrevo sobre o que ficou atrasado. A começar por Amsterdã.

Assim como não tinha, a princípio, Barcelona em meus planos de viagem, também Amsterdã havia ficado ao final da lista, simplesmente por eu não conseguir encontrar um tempo livre até fevereiro para ir até lá. Mas, como a vida é mesmo imprevisível, recebi uma proposta irrecusável. O Jackson, o Ian e a Lud iam para lá somente para passar o dia, por um preço bem razoável. Como o meu empecilho maior era a falta de tempo, foi o convite perfeito para um domingo em que eu não tinha muito o que fazer.

Tive apenas quatro horas de sono até as 3 da manhã, quando saímos em direção ao ponto de encontro da excursão. Fomos a pé, porque não há ônibus domingo antes das sete da manhã aqui perto de casa. Caminhada de madrugada parece ser minha sina por aqui. Foi, porém, agradável e chegamos rápido ao destino. A viagem de ônibus, que durou seis horas, também não foi ruim. Entre cochilos e "pescadas" bruscas, pude ver a linda paisagem belga, enquanto atravessávamos o país da melhor cerveja do mundo (Chimay, pra quem quiser provar). Os vilarejos, encobertos por névoa, brotavam pequenos e marrons no meio de campos muito verdes. Deu muita vontade de parar em cada um. Só paramos em um posto de gasolina em Liège, onde consegui pedir meu café e meu pãozinho em francês! Que felicidade boba!

Chegando na Holanda, não se via nada além de campos extensos, durante muitos minutos. Percebi, então, que a população estaria concentrada no coração do país, dividida entre poucas cidades. Foi quando comecei a notar alguns prédios arquitetonicamente curiosos que percebi que devíamos estar perto de Amsterdã.

A primeira coisa que me surpreendeu foi a visão de um prédio em forma de barco chamado Nemo. Achei a maior graça e só depois fui descobrir que ele abriga um super centro científico e cultural. Fazendo jus ao tempo chuvoso, a cidade estava muito cinza, o que nos fez desanimar um pouquinho. Mas não o suficiente para deixarmos de aproveitar. Andamos, andamos, andamos, até resolvermos fazer um passeio de barco pelos canais de Amsterdã. Dizem que é a Veneza nórdica. Eu, particularmente, não sei se concordo com isso, porque falta a Amsterdã o clima de romance. O passeio de barco, que a princípio parecia uma ideia empolgante, foi se transformando em tédio e sono, à medida que o tempo ia passando e o céu escurecendo. Foi bom para podermos ter uma visão geral sobre o que é Amsterdã e para onde devíamos ir. Do barco pude ver a fila imensa da casa da Anne Frank e fiquei triste, sabendo que era impossível esperar por todas aquelas pessoas. Só tínhamos seis horas na cidade e os museus contavam com infinitas filas, o que impossibilitou que visitássemos a casa da Anne Frank, o museu do Van Gogh e o museu da Heineken. Os únicos vazios e transitáveis eram o museu do sexo e o da vodca, mas ninguém quis ir comigo.

O nosso passeio se restringiu, então, a uma bela caminhada. Não reclamo, foi interessante. Pegamos em flagrante a gravação de um filme e fiquei observando curiosamente a estrutura da filmagem e a própria encenação. Paramos praticamente de bar em bar, para que os meninos pudessem provar as cervejas. Depois, claro, fomos ao "red light district", o bairro onde as prostitutas se expõem em vitrines e convidam turistas curiosos ao aconchego de suas... banhas. Gente, todas as mulheres que vimos lá eram lamentavelmente feias e esquisitas. Deve ser por isso que as pessoas bebem tanto e fumam maconha em Amsterdã. Caso contrário, a visão é insuportável para os que nutrem expectativas altas. Eu morri de rir das cenas que vi e olhei mesmo com curiosidade todas as vitrines de sex shop, porque os artigos lá expostos eram incrivelmente bizarros. E preciso confessar que o bairro em si é muito bonito e interessante.

Ao fim da tarde, nos sentamos em uma mesinha de palha à beira do canal para a última cerveja do dia e fiquei admirando a invasão dos patos, que migravam não sei para onde. Bonito de se ver, quando combinado ao por do sol.

O dia foi curto, mas super agradável. Conseguimos finalmente ver o que havia de tão incrível em Amsterdã, tão famosa por suas leis ousadas e pela diferença de comportamento das pessoas. Valeu a pena ter ido em tão boa companhia conhecer a capital da Holanda.

Chegando em Saarbrücken, um ocorrido estranho: uma das igrejas estava repleta de gente (a 1 da manhã) e, de lá, saía música. Não era música gospel, mas um tunz-tunz digno da boate mais movimentada da cidade. Curiosos, entramos lá para ver o que era. Uma festa de aniversário regada a álcool, com estudantes dançando freneticamente! Em plena torre da igreja! Como descobrimos isso? Quando um cara nos cercou e perguntou: "quem são vocês? Porque essa é minha festa de aniversário e eu não convidei vocês." Hahaha! Foi um bom jeito de fechar a noite.

Exausta e mofada de chuva, tomei um banho quente e fui sonhar com os canais de Amsterdã, desejando ter visitado a casa da Anne Frank. Quem sabe outra hora?


Foto de turista

A invasão dos patos

Todo mundo de Amstel (e eu só na coca-cola)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Seis taças de vinho e nenhum copo d'água.

Quando, na escola, aprendemos sobre a função do título de um texto, a maioria dos professores se restringe a dizer que ele o resume. Eu me arrisco a dizer que ele não só sintetiza, como também retoma estrategicamente o ponto principal sobre o qual o autor deseja falar. Eu, através do título deste post, me revelo amante confessa de vinhos. Quando descobri que havia uma excursão promovida pela universidade por todo o estado e que, ao final, haveria prova de vinhos, quis de imediato me inscrever. É claro que a viagem não se limitou à última hora em que estivemos todos assentados degustando vinhos, mas o ponto alto do dia foi definitivamente esse. Conto, então, do princípio.

Acordei sábado às sete da manhã, lamentando muito não poder dormir mais. Tomei um café rápido, pois havia combinado de encontrar a Lud às sete e meia no térreo do prédio. Cheguei dez minutos atrasada e ela não estava lá. Fui até seu apartamento, bati na porta algumas vezes e ela não atendeu. Pensei, então, que ela já tivesse saído e fui sozinha para o ponto de encontro da excursão. No caminho, vi o sol nascer em uma fusão de cores, se levantando vagarosamente por entre as nuvens. Ao chegar à universidade, vi que a Lud não estava lá e fiquei me sentindo culpada por não ter insistido mais ao bater na porta. Além do mais, seria um pouco chato ficar sozinha o dia inteiro na excursão, já que todos estavam em grupinhos bem consolidados, falando em suas respectivas línguas maternas.


O nascer do sol na Universidade


Primeiro destino: Homburg. A cidadezinha fica próxima a Saarbrücken e é aonde se encontra o campus da Faculdade de Medicina. O que eu não sabia era que lá havia um museu romano ao ar livre. Não é lá grandes coisas, mas é sem dúvidas interessante estar em uma fundação arqueológica e tocar em construções erguidas pelos romanos há mais de 2000 anos.

Römer Museum - Homburg

Partindo de Homburg, fomos a Völklingen, a cidade que abriga um patrimônio cultural bastante inusitado. É o Völklingen Hütte, siderúrgica que se encontra interditada há mais de 20 anos. Eu não me interesso muito por isso de engenharia, mas não posso deixar de mencionar que a indústria é fascinante por seu tamanho. Seu contar que me lembrei do meu pai o tempo todo. Hoje em dia o Völklingen Hütte funciona como local para exposições de arte e é aberto para visitação de engenheiros/turistas curiosos. Chegando lá, a Lud estava nos esperando. Ela tinha dormido demais e pegou um ônibus até a cidade para nos encontrar. Isso me animou bastante.


Brincando de engenheira no Völklingen Hütte


Depois de Völklingen, fomos a Saarlouis, onde teríamos um tempo livre para almoçar. Nos juntamos com a Jana, que é eslovaca, a Raquel, da Bolívia e a Cathrine, da Dinamarca, e comemos no Burger King mesmo, para economizar tempo e dinheiro. A economia de dinheiro foi benvinda, mas a de tempo, inútil. Não havia muito o que fazer em Saarlouis, a não ser visitar umas ruínas que ficavam relativamente distantes. Logo, não tivemos tempo suficiente para irmos até lá sem que o ônibus fosse antes embora. De barriga cheia, quase sem mobilidade, nos dirigimos para o ônibus e ficamos conversando.

Brincando de ser rainha em Saarlouis

De lá, fomos a Orscholz, depois a Nennig e, por último, a Perl/Dreiländereck ("esquina de três países"). Preciso confessar que eu não sei o que fizemos em Orscholz. Nem sei se de fato desembarcamos lá. Acho que não, mas está no programa. Enfim. Em Nennig vimos um chão lindíssimo e enorme feito todo de um mosaico romano. Depois, fomos direto a Perl, um dos destinos mais esperados da excursão.

Römischen Mosaikbodens - Nennig

Em Perl, fronteira Alemanha-França-Luxemburgo, tem-se a vista mais linda do estado até agora: o Saarschleife. Do topo de uma montanha, pode-se ver a curva do rio e sua floresta colorida pelo outono. Foi de tirar o fôlego e ótimo para refrescar a mente.

Saarschleife

Depois de passarmos um tempinho admirando a vista do Saarschleife, a hora da degustação de vinhos chegou. Fomos recebidos em Perl, na Weingut "Herber", para experimentarmos os vinhos da região do rio Mosel. Por mais que as expectativas fossem altas, pensei que seria literalmente uma prova, com direito a cuspir o vinho e tudo mais. Ainda bem que não. Os vinhos eram deliciosos e vinham aos montes, o que significa que cada um, ao final, bebeu aproximadamente o conteúdo de uma garrafa. Não me orgulho de estar bebendo tanto, mas preciso confessar de aproveitei demais e me deliciei com cada taça. Os vinhos são maravilhosos e foram acompanhados de pimentões, de ótimos pães e queijos. Além disso, o pessoal da mesa estava super animado e conversamos bastante. Resultado? Um karaokê improvisado na viagem de volta. TODO mundo estava ligeiramente alterado e, por isso, todos cantamos uma música do nosso país de origem NO MICROFONE, em pé no ônibus, para todo mundo ouvir. Eu e a Lud cantamos "Garota de Ipanema" e recebemos muitos aplausos. É de fato incrível o que podem fazer algumas taças de vinho (e nenhum copo d'água).

Alemanha, Bolívia, Eslováquia, Inglaterra, França e Brasil.

Não se deixem enganar: ainda falta uma garrafa.