quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Reclamação e Amsterdã.

Agora que a até então mais tenebrosa semana da minha estadia alemã aparentemente chegou ao fim, volto ao blog, para contar outras aventuras (e as desventuras, a título de desabafo). Mas antes fica aqui a minha reclamação e o registro oficial do meu atual egocentrismo: eu estou do outro lado do Atlântico, passando por dias chuvosos e escuros, vendo o sol parar de brilhar às cinco da tarde (quando ele aparece durante o dia), sozinha. Como se não bastasse, um professor maluco que acha que o mundo acadêmico gira em torno dele nos pede para ler "Os sofrimentos do jovem Werther" e para escrever uma análise sobre um poema do Goethe de no mínimo duas páginas - em uma semana. Para quem não sabe, Werther tem a linguagem mais antiga e difícil do universo, inclusive para os alemães, e é extremamente melancólico, o que influenciou o meu estado de espírito já não muito contente. Para piorar, tive conversas com resultados indesejados, perdi noites de sono, comi em dobro, tive crise de enxaqueca e perdi a vontade de fazer qualquer coisa. E aí venho ao blog, para me sentir melhor e mais querida, e percebo que quase ninguém comenta - ou sequer lê - mais. Podem pensar que é o cúmulo da carência. E deve ser mesmo, eu não me importo. Dá vontade de não mais publicar, de me desligar de toda e qualquer tecnologia, de parar de dar notícias e de sair por aí, à mercê do destino. Mas, voltando aos posts iniciais, lembro de ter dito que publicaria independentemente de quem fosse ler ou comentar. A intenção do blog é não me esquecer dos dias que estou vivendo aqui. Então, apesar da queda brusca do número de leitores e comentaristas, escrevo sobre o que ficou atrasado. A começar por Amsterdã.

Assim como não tinha, a princípio, Barcelona em meus planos de viagem, também Amsterdã havia ficado ao final da lista, simplesmente por eu não conseguir encontrar um tempo livre até fevereiro para ir até lá. Mas, como a vida é mesmo imprevisível, recebi uma proposta irrecusável. O Jackson, o Ian e a Lud iam para lá somente para passar o dia, por um preço bem razoável. Como o meu empecilho maior era a falta de tempo, foi o convite perfeito para um domingo em que eu não tinha muito o que fazer.

Tive apenas quatro horas de sono até as 3 da manhã, quando saímos em direção ao ponto de encontro da excursão. Fomos a pé, porque não há ônibus domingo antes das sete da manhã aqui perto de casa. Caminhada de madrugada parece ser minha sina por aqui. Foi, porém, agradável e chegamos rápido ao destino. A viagem de ônibus, que durou seis horas, também não foi ruim. Entre cochilos e "pescadas" bruscas, pude ver a linda paisagem belga, enquanto atravessávamos o país da melhor cerveja do mundo (Chimay, pra quem quiser provar). Os vilarejos, encobertos por névoa, brotavam pequenos e marrons no meio de campos muito verdes. Deu muita vontade de parar em cada um. Só paramos em um posto de gasolina em Liège, onde consegui pedir meu café e meu pãozinho em francês! Que felicidade boba!

Chegando na Holanda, não se via nada além de campos extensos, durante muitos minutos. Percebi, então, que a população estaria concentrada no coração do país, dividida entre poucas cidades. Foi quando comecei a notar alguns prédios arquitetonicamente curiosos que percebi que devíamos estar perto de Amsterdã.

A primeira coisa que me surpreendeu foi a visão de um prédio em forma de barco chamado Nemo. Achei a maior graça e só depois fui descobrir que ele abriga um super centro científico e cultural. Fazendo jus ao tempo chuvoso, a cidade estava muito cinza, o que nos fez desanimar um pouquinho. Mas não o suficiente para deixarmos de aproveitar. Andamos, andamos, andamos, até resolvermos fazer um passeio de barco pelos canais de Amsterdã. Dizem que é a Veneza nórdica. Eu, particularmente, não sei se concordo com isso, porque falta a Amsterdã o clima de romance. O passeio de barco, que a princípio parecia uma ideia empolgante, foi se transformando em tédio e sono, à medida que o tempo ia passando e o céu escurecendo. Foi bom para podermos ter uma visão geral sobre o que é Amsterdã e para onde devíamos ir. Do barco pude ver a fila imensa da casa da Anne Frank e fiquei triste, sabendo que era impossível esperar por todas aquelas pessoas. Só tínhamos seis horas na cidade e os museus contavam com infinitas filas, o que impossibilitou que visitássemos a casa da Anne Frank, o museu do Van Gogh e o museu da Heineken. Os únicos vazios e transitáveis eram o museu do sexo e o da vodca, mas ninguém quis ir comigo.

O nosso passeio se restringiu, então, a uma bela caminhada. Não reclamo, foi interessante. Pegamos em flagrante a gravação de um filme e fiquei observando curiosamente a estrutura da filmagem e a própria encenação. Paramos praticamente de bar em bar, para que os meninos pudessem provar as cervejas. Depois, claro, fomos ao "red light district", o bairro onde as prostitutas se expõem em vitrines e convidam turistas curiosos ao aconchego de suas... banhas. Gente, todas as mulheres que vimos lá eram lamentavelmente feias e esquisitas. Deve ser por isso que as pessoas bebem tanto e fumam maconha em Amsterdã. Caso contrário, a visão é insuportável para os que nutrem expectativas altas. Eu morri de rir das cenas que vi e olhei mesmo com curiosidade todas as vitrines de sex shop, porque os artigos lá expostos eram incrivelmente bizarros. E preciso confessar que o bairro em si é muito bonito e interessante.

Ao fim da tarde, nos sentamos em uma mesinha de palha à beira do canal para a última cerveja do dia e fiquei admirando a invasão dos patos, que migravam não sei para onde. Bonito de se ver, quando combinado ao por do sol.

O dia foi curto, mas super agradável. Conseguimos finalmente ver o que havia de tão incrível em Amsterdã, tão famosa por suas leis ousadas e pela diferença de comportamento das pessoas. Valeu a pena ter ido em tão boa companhia conhecer a capital da Holanda.

Chegando em Saarbrücken, um ocorrido estranho: uma das igrejas estava repleta de gente (a 1 da manhã) e, de lá, saía música. Não era música gospel, mas um tunz-tunz digno da boate mais movimentada da cidade. Curiosos, entramos lá para ver o que era. Uma festa de aniversário regada a álcool, com estudantes dançando freneticamente! Em plena torre da igreja! Como descobrimos isso? Quando um cara nos cercou e perguntou: "quem são vocês? Porque essa é minha festa de aniversário e eu não convidei vocês." Hahaha! Foi um bom jeito de fechar a noite.

Exausta e mofada de chuva, tomei um banho quente e fui sonhar com os canais de Amsterdã, desejando ter visitado a casa da Anne Frank. Quem sabe outra hora?


Foto de turista

A invasão dos patos

Todo mundo de Amstel (e eu só na coca-cola)

10 comentários:

  1. Eu continuo lendo, amando seus posts e sonhando daqui, Joh. Beijo, fica bem!

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  2. e foram expulsos da festa? que paia!

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  3. Jura que Chimay é a melhor cerveja do mundo!? hahaha Enfim, você devia ter dado um pulo no Le Carré em Liège, melhor coisa do mundo ;) fica pra proxima hehehe

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  4. jooooooooyceeee eu sempre leio aqui, aliás, passo aqui mais do que vc posta :P

    adoro seus relatos e fico querendo te dar um abação de vez em quando e imaginando o que eu faria no seu lugar...

    beijo meu - e do vini no meu colo

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  5. Gente, todas as mulheres que vimos lá eram lamentavelmente feias e esquisitas. Deve ser por isso que as pessoas bebem tanto e fumam maconha em Amsterdã. Ahauhauhauahuhauahuah. Passei mal de rir!
    Saudades de vc!
    Bjo

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  6. Amsterdã *-*

    Fica tranquila, Joh! Sempre tem alguem (te) lendo ;D

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  7. Linda, recebe abraços e beijos e bênçãos todos os dias! Estamos vivendo com vc esta jornada e te amamos como sempre! E saiba que leva vantagem pois pode afogar sua saudade num belo pedaço de bolo de maçã, chocolate suiço, excelentes cervejas, vinhos, paisagens maravilhosas e novos amigos!! APROVEITA!!!! Mamãe

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  8. c derrotou a elegância desses gansos chamando-os de patos, joh. haha...

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  9. Confesso que não li o post anterior (ainda), pois fiquei doente de não sair da cama, mas tenha a certeza que sempre fico esperando um post seu e fico tão feliz quando vejo o "tempodebatatas" lá no alto da minha lista de "Eu também leio..." no meu blog! :D Pra mim é um sinal de que está bem, no matter what. Te leio sempre, com o coração! Juju bonita com laço de fita!

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  10. Oi Joh!
    Eu dinovo...
    "Os sofrimentos do jovem Werther" e o poema de Goethe sei que foram pesados demais, mas vc deu conta! Vá leve...dentro do seu possível, como já nos falamos...
    Amasterdan, concordo com a sua visão cinza (por mim mesmo quando estive por lá) e a certa perplexidade e surpresa diante das "coisas" que iam se apresentando...às vezes de rir mesmo! - gostei do seu humor - hahahaha!
    Uma igreja na volta com festa foi uma sinal de espírito alegre, contente com o dia aprendido..
    Bjo
    Te amo,
    Papai

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