segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Paris: c'est le paradis.

Quarta-feira passada, depois de muita confusão devido à inexperiência de arrumar malas para o inverno, saí de casa rumo à estação principal. Um café inesperado e agradável, meia hora de espera tensa, um trem de alta velocidade. O TGV partiu à noite, de forma que não pude enxergar nada lá fora, aumentando exponencialmente a minha ansiedade. Estava indo finalmente para Paris e mal podia acreditar. Afoguei o nervosismo em um pão velho (sim, isso foi muito feio) e, quando percebi, estava lá. Descendo do trem, o Alexandre me esperava na estação para o melhor abraço dos últimos tempos. Pegamos o metrô rumo a Bel-Air, onde ficaríamos hospedados. Ao chegar no apartamento, a sensação de estar em um prédio tipicamente parisiense. Escadas de madeira e portas antigas - como bem lembrou o Alexandre, a atmosfera remetia ao prédio o Ewan McGregor em Moulin Rouge. O quarto do nosso adorável anfitrião parisiense era super bonito e bem decorado e, apesar de pequeno, nos abrigou muito bem.

Tentamos planejar o dia seguinte do começo ao fim, mesmo já conhecendo secretamente a força da improvisação. Acordamos e fomos para um café-bistrô para o café da manhã. Com muita dificuldade, conseguimos pedir nossos cappuccinos, pains au chocolat e tartines. A dificuldade só foi maior na hora de pagar, porque não sabíamos chamar o garçom nem como pedir a conta. Começamos, então, a nos vestir, para que o garçom percebesse que queríamos ir embora. E essa foi a nossa estratégia até o final. Do café, seguimos à Champs-Élysées. Preciso confessar que eu tinha uma imagem completamente distorcida do local e que, por isso, era o último destino em Paris que eu planejava conhecer. Ainda bem que não deixei passar. A avenida é fabulosa! Não sei nem quais lojas se encontram lá, porque tudo o que consegui fazer foi absorver a atmosfera parisiense e mal podia tirar os olhos do Arco do Triunfo. O monumento é IMENSO e maravilhoso e fiquei com dor no pescoço de tanto olhar para cima e tentar entender como aquilo foi construído. Eu e o Alexandre resolvemos subir para apreciarmos a vista e, depois de muita escada em espiral, tonteira e falta de fôlego, chegamos ao topo e tiramos muitas fotos.


Saindo do Arco, andamos a Champs-Élysées até o fim, cruzamos o Sena, que também é enorme e possui pontes belíssimas, avistamos ao longe a Torre Eiffel e atingimos o Louvre. Paris não se cansava de me surpreender. Eu era tomada pela falsa imagem de que tudo o que havia de bonito na cidade eram os pontos turísticos e que, entre eles, haviam prédios comuns. Mas Paris é inteira uma atração e exibe orgulhosa construções monumentais que podem ser, simplesmente, a casa de alguém. Eu e o Alexandre caminhávamos boquiabertos e dávamos pulinhos constantes de alegria. Era mesmo PARIS.

Fomos à Catedral de Notre-Dame, onde o Alexandre brincou de ser corcunda. A igreja é mesmo linda e ficamos lá por alguns instantes, tagarelando sobre assuntos impróprios ao ambiente sagrado da catedral. Foi quando uma nuvem negra apareceu de repente no céu e eu pensei que cairia uma tempestade.

Andamos mais um pouco e entramos em uma lojinha de souvenirs e, depois de querer de comprar tudo e de conseguir conversar em francês com o vendedor simpático, uma surpresa: neve. Ou não? A precipitação era de gelo fininho e pequeno e nós não conseguíamos distinguir neve de granizo. O Alexandre fez o meu dia quando parou uma moça na rua e perguntou se aquilo era considerado neve. Ela morreu de rir e disse que sim, mas nós continuamos incrédulos, porque ela não caía tão leve quanto imaginávamos. Eu fiquei feliz de qualquer forma. De lá, fomos ao Jardim de Luxemburgo, cujas árvores peladas entristeciam o tão célebre senado francês. O cenário não era tão bonito quanto esperado, porque estava em obras. Fomos logo embora, com o guardinha expulsando todos os visitantes.

Do Jardim fomos procurar artigos gostosos de pâtisserie e acabamos em um café, tomando cappuccino e comendo tortinhas de framboesa e cassis. Delícia. Depois fomos procurar o Marais, o bairro da aristocracia e da população colorida francesa. Foi fácil identificá-lo quando nos demos de cara com o Hôtel de Ville iluminado de roxo e rosa. Em uma das lojas, vimos vitrines bizarras, cujas bonecas cortavam com uma tesoura a cabeça do pobre Papai Noel.


Não nos demoramos muito lá, porque estávamos cansados e o bairro não era tão divertido assim. Caminhamos para o Quartier Latin, nos sentamos em um bar e pedimos vinho e uma tábua de queijos. O Alexandre teve a chance de me ver tonta, rindo de tudo e sendo disléxica (é o que acontece quando, ao invés de se falar "crise de stress", se fala "créssi de striss"). Voltamos para casa e eu apaguei, sorrindo de orelha a orelha, sob efeito do vinho de Bordeaux e com a cabeça povoada por memórias recentes muito boas.

Sexta-feira acordei pensando que devia tentar novamente ligar para o Douglas ou para a Marcela, porque seria desaforo voltar para a Alemanha sem tê-los visto. E nada de o telefone português deles funcionar. Fui, então, com o Alexandre tomar um café e comer um croissant e, não satisfeitos (com a quantidade, especificamente), compramos uma baguete, que comemos a caminho do Montmartre. Meu coração parecia que sairia pela boca, porque eu finalmente veria o bairro onde o Amélie Poulain foi gravado. Para quem não sabe, é o filme da minha vida. Saindo do metrô e atravessando o mundo de lojinhas de souvenirs que havia por lá, avistei a Sacre-Coeur e quase tive um ataque. Podia enxergar o filme rodando na minha frente. Nos sentamos na escadaria para admirar os raios de sol que cortavam a cidade, ouvir a harpa que soava lindamente e comer alguns macarons. Era o paraíso.


Entramos na igreja, assistimos um pedacinho da missa em francês e, em seguida, fomos andar pelo bairro. Um músico tocava a trilha sonora inteira de Amélie no acordeon e eu não pude evitar: ofereci a ele o sorriso mais sincero e babão e quis abraçar o mundo (e ele também. Pena que a timidez me segurou). O Montmartre transpira arte e abriga cafés charmosos. Fomos andando bairro abaixo e, depois me muito pedir informação para franceses que não sabem de nada, encontramos o Douglas e a Marcela em frente ao Moulin Rouge. Não é nada demais, mas tiramos nossa foto charmosa e esvoaçante em frente a ele e fomos logo almoçar. Depois de comer, fomos até a parte do Sena onde fica a Torre Eiffel. Foi quando, de repente, começou a nevar. Era a primeira neve da minha vida. Em Paris. No Sena. Vendo a Torre Eiffel. Não podia ser mais mágico. Foi nesse momento, inclusive, que passei a ver a Torre como algo verdadeiramente bonito - e não como uma mera torre de televisão, a qual havia sido a minha primeira impressão.



Eu e o Alexandre fomos para a fila da Torre e subimos de elevador até o topo. As filas eram longas e o ar estava gelado, de modo que meus pézinhos congelaram dentro do All-star (eu PRECISO de sapatos de inverno, mas nada cabe em mim). Na fila, brasileiros para todo lado. Como descobrimos? Uma mulher resolveu, de repente, falar bem alto: "aaai, que dorr no rim!" e nós explodimos de rir.

A vista de cima da Torre ficou mais linda ainda quando a neve voltou a cair e escureceu. Encontramos um aquecedor e ficamos longamente apoiados nele, esperando o movimento dos dedos dos pés voltarem, admirando a cidade se pontilhar de luzes. Cidade luz mesmo. Depois da Torre, tentamos nos encontrar com a Marcela e o Douglas no Louvre, mas foi impossível. Custamos a nos decidir se entraríamos no museu ou não, já que tínhamos pouco tempo e há uma infinidade de obras a serem vistas. A dúvida foi solucionada quando descobrimos que a entrada sexta-feira à noite era gratuita para menores de 26 anos. Passeamos pelo museu despreocupadamente, parando às vezes em frente a alguma obra para admirar (ou fazer piadinha). A Monalisa não é nada de mais e eu realmente não entendo o alarde em torno dela. As outras obras da mesma sala são muito mais vistosas e o prédio do Louvre, em si, me impressionou muito mais do que a obra de Da Vinci.

Voltamos para o apartamento do Romain já bem tarde, distraídos pela imensidão do Louvre, e eu não quis sair com eles para a boate. Preferi ficar desmaiada até as dez horas do dia seguinte, o que atrapalhou meus planos de ir ao Musée d'Orsay antes de pegar o trem. Acabei tomando um café e depois passeando pela vizinhança enquanto comia uma baguete e respirava mais um pouco o ar de Paris. Eu não queria ter que vir embora. Paris me ganhou e, com certeza, voltarei em breve.

No trem de volta para Saarbrücken, uma alemã simpática ficou conversando comigo e não me deixava pegar no sono - o que me fez enxergar uma terra toda branquinha e pacífica lá fora. O que me fez esquecer as metralhadoras nas mãos dos policiais para todo lado, as promessas de atentados terroristas, o trabalho de 15 páginas que tenho que entregar antes do Natal, a guerra no Rio de Janeiro e tudo o que perturba a mente e o mundo.

Não sei como será daqui a um mês, quando a temperatura terá atingido os 20 graus negativos. É possível que já tenha me cansado de sair (e escorregar) na neve. Mas, por enquanto, não me canso de admirar a vista da minha janela. A floresta amanhece sempre branquinha e silenciosa, enquanto os flocos de neve descem sonolentos e a sensação de paz paira no ar. Hoje acordei pensativa e, apesar de ter me enervado bastante com a escolha não muito inteligente de passagens para a Itália, bastou que eu olhasse pela janela para que tudo melhorasse. E então me lembrei mais uma vez de Paris - e como poderia esquecê-la?

13 comentários:

  1. É bom vc comprar um sapato que NÃO seja um all-star pra neve mesmo! MALUCA! Como vc conseguiu sobreviver à neve com ele?!? uhauhauhauha Ri demais do alexandre perguntando se aquilo era neve... E que bom que mais alguém ficou simplismente maravilhado não só com a torre eiffel, mas com TODAS AS RUAS de Paris! Essa cidade não tem explicação!
    Bjo jóoooh

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  2. Só queria comentar que a palavra pra verificar que eu sou um ser humano e não um robô foi "franse" uhauhauhauhauhauhauh

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  3. Jo, compre novos sapatos, foi por usar all star em temperaturas muito baixas que eu tenho meu problema no pé! E reforço a minha idéia de Paris :D [queria ter presenciado o Alexandre abordando a mulher hahaha]

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  4. Adorei a descrição de Paris!
    Você realizou grande partes dos meus sonhos em apenas um dia, e com direito a trilha sonora hahaha
    Tudo parece realmente lindo por ai!
    Aproveita mesmo, joh
    :*

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  5. zóóóóh, parrí foi linda!
    sobre a itália, relaxa que agora a passagem já tá comprada e você já tem lugar pra ficar. a gente fez umas escolhas meio questionáveis esses dias, mas depois que passa a gente vê que tudo deu certo :)
    adorei ter você como companheira de viagem, que bom que vamos repetir! :D
    beeeijo, até depois de amanhã!

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  6. Ahhhhhhhhhh *suspiros* Paris

    Johhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh,
    serio de ler seu relato, me senti novamente nessa cidade maravilhosa... e serio, eles contruiram a cidade pra ser MARAVILHOSAAAAAA!!!! nao tem explicacao, cada pedacinho dessa cidade irradia beleza e alegria por estar nela....

    compre sapatos, urgentementeeeee....


    saudadeeee

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  7. compre as botas mais lindas que eu vou continuar aqui morreeendo de inveja dessa(s) viagem mais linda de todos os tempos que é a sua, dona joyce! beijoca

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  8. Ai filha vc é muito chique!!! Te amo!
    Mamãe

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  9. E dizem que BH foi pensada pra ser que nem Paris, não é? É porque moro aqui há bastante tempo ou isso me parece em grande parte mentira? hahahaha não vejo o charme aqui como eu vi (senti) aí? AAAH, contagem regressiva. *medo*

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  10. Se eu fosse uma pessoa impulsiva, já tinha trancado a matrícula e feito as malas. PARIS *-*

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  11. Ei Filha do Pai Poulain...!

    Estar na terra de Amelie, só isso basta.
    A descoberta de si mesmo, da atenção com os outros e seus mal-resolvidos "problemas"...
    A vida vivida em sua plenitude quando se enxerga os valores escondidos (e na verdade bem aparentes...)...(:>)
    Também sou fã do filme, de Paris - arte presente em todos os cantos!
    Volte lá sim, mais vezes.

    Bjo especial

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  12. enfim descobri o que aconteceu, heheh!

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  13. Ah! Que linda.... Em Paris! Saudade de você, Bunitinha.
    Espero que esteja aproveitando tudo, tudo, tudo!

    Ah! Adorei o seu recado de parabéns para mim no meu aniversário. Linda!

    Beijoca.

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