sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Muita chuva e dois dedos de drama.

Tinha planos de hoje subir a pé até a Rathaus, que não é a casa dos ratos, mas a prefeitura. Aposto que até aqui deve dar quase na mesma. Passando de carro, reparei que é uma construção antiga, bonita e tipicamente alemã e, por isso, quis muito visitar. É aberta a visitações e fica no centro, onde eu poderia caminhar em busca de mais novidades. Acontece que está chovendo incessantemente e o vento insiste em soprar bem forte, para a inveja dos que aí estão e para minha tristeza, já que ainda não tenho uma capa de chuva e serei obrigada a ficar em casa. Dedico, então, a segunda metade da manhã a escrever as já-não-tão-novas novidades de ontem. Não consegui escrevê-las enquanto ainda estavam fresquinhas, porque tive um dia difícil: chorei em cada intervalo de convivência social. Espero que isso seja apenas parte da adaptação e que não dure mais que uma semana.

Agora que acabei de comer meu primeiro chocolate europeu, uma barrinha pequena de Super Knicks que a Gabi me deu e que comi enquanto olhava o álbum de fotos da neve do ano passado, pego meu bloquinho de palavras-chave, que é para eu não esquecer de nada.

Para tentar narrar em ordem cronológica, se é que isso realmente importa, ontem finalmente consegui acordar cedo - às oito e meia estava de pé, super animada para ir conhecer a cidade grande. Neunkirchen é outra que fica aqui pertinho, a uns dez minutos (Tai e Marcos, aqui só se pode andar a 180Km/h na Autobahn, que é a estrada de alta velocidade. As estradas que ligam as cidades do mesmo perímetro urbano, digamos assim, são bem estreitas e a velocidade fica mesmo em torno dos 60km/h). Ainda não chega a ser uma metrópole e não sugere a imensidão de Belo Horizonte, mas já ajudou a satisfazer parte da minha vontade de ver mais gente.

Antes de chegar lá, paramos em uma loja de material para construção (aqui existem muitas delas em todo lugar) a fim de comprar algumas latas de tinta que a Gabi vai usar para pintar os vasos do jardim. Vi uns quadros com fotos interessantes, que mostravam a arquitetura de diferentes lugares da Europa. Um deles apontava uma casa holandesa, cujo exterior havia sido feito por um artista plástico alemão. Agora me esqueci o nome do cara e não tirei nenhuma foto - maravilha, Joyce! Enfim, era uma casa torta, com microjanelas e pinturas que remetiam a um universo onírico.

Depois de sairmos dessa loja, fomos ao supermercado. Pude, pela primeira vez, espiar os preços dos produtos e não os achei tão caros assim. Há muita variedade de tomates e as frutas são estranhas. Abacaxi, só enlatado. Saímos do supermercado com dois vasinhos de cactus e rumamos ao centro. Escolhemos um lugarzinho na praça que ficava em frente ao shopping e tomamos um legítimo cappuccino italiano. Olha, verdade seja dita, prefiro o nosso, de saquinho mesmo. Muito mais cremoso e saboroso. Em seguida, Gabi me levou ao shopping para que eu pudesse dar uma olhada nas roupas, só de curiosidade. Foi uma tristeza descobrir que o meu tamanho é mesmo infantil, mas um alívio descobrir que, aqui, as barbies e a hello kitty passam longe do vestuário das criancinhas. As roupas são bem discretas e bonitas. Depois me muito circular, acabei comprando um pullover confortável em uma loja de... café. Vai entender. Ainda no shopping, vi uma loja só de frutas e legumes, pela qual fiquei interessada. Passei uns vinte minutos lá, olhando atenciosamente, investigando preços e ouvindo as explicações da Gabi. A vendedora, percebendo que eu era estrangeira (que emoção isso!), me deu uma fruta comprida e roxa, cujo sabor era idêntico ao de uma ameixa.

Saindo do shopping, já meio zonza com tanto barulho, fomos ver uma antiga torre de armazenamento do água, que agora abriga um cinema, alguns restaurantes, uma estação de rádio e um teatro. O cinema fica DENTRO da torre, no mesmo lugar onde a água costumava ficar:


Vendo o Hooters, por causa das garçonetes peitudas e loiras que dançam no balcão, a Gabi ficou indignada e começou a discursar sobre o machismo e a imagem das mulheres. Depois parou de falar e ficou resmungando sons incompreensíveis. Ela faz isso com certa frequência, é engraçado.

De lá, voltamos ao shopping e eu comi meu primeiro Döner! Pra quem não sabe, é um sanduíche turco bem grande e barato, que alimenta umas duas pessoas tranquilamente. Eu comi um sozinha, dividido entre o almoço e o jantar, claro. Tinha mais de 30cm! Acabando de almoçar, fomos à farmácia, onde consegui comprar um removedor de esmalte e onde fiquei abismada com a variedade de produtos capilares. Depois volto com mais calma.

Voltando para casa, depois de passar exaustivamente em cada loja de decoração de interiores, me joguei na cama e chorei. O MSN tinha ficado ligado o dia inteiro, havia várias pessoas online e NINGUÉM tinha me dado um "oi" sequer. Não tinha nenhum email novo. O suficiente pra me deixar impaciente e dramática, pensando que eu seria esquecida em uma semana por todo mundo. Já que ninguém se lembrava de mim mesmo, abandonei o computador violentamente e fui trabalhar no jardim. De pés descalços e cabeça cheia, arranquei as ervas daninhas e afofei a terra ao redor das flores. Fiquei imunda, mas um pouco aliviada.

Passados alguns minutos, conversei com a minha mãe e meu irmão no Skype e fiquei mais tranquila. Tomei um banho bem quente, fiz as unhas com meu alicate cego, li um pouco, fui para a cozinha comer o resto do meu Döner gigante e conversei com o Christian. Ele é bem legal comigo. Me deu uma aula sobre os tipos de cerveja de cada região da Alemanha e disse que os jovens aqui gostam de beber cerveja com coca, com banana e com várias outras coisas bizarras. Lembrei da Paula. Ele me contou sobre Saarbrücken e os bares de lá, que conhecerei sábado. Depois começamos a falar de viagens e ele disse que nunca foi a Berlim nem ao Oktoberfest. Inacreditável. E, às vezes, ele se esquece que eu não sou daqui e começa a falar um dialeto local muito forte, o Saarlandisch. Sério, não tem NADA a ver com o alemão padrão. Aí ele percebe, ri muito e traduz na maior paciência.

Quando decidi vir para o quarto, a Gabi disse que pensava que eu bebia pouco durante o dia e colocou uma garrafa d'água no meu quarto. Achei bonitinho. Depois disso, para minha alegria, meus pais e meu irmão estavam no Skype e eu os levei para fazer um tour pela casa.

Muito drama depois, desliguei o computador, me deitei e, pela primeira vez, não senti medo e caí rápido no sono. E agora espero a chuva dar uma trégua para que eu não precise me internar e voltar a me sentir sozinha. Hoje deve ser a primeira aula de português do Charly. Conto como foi.


15 comentários:

  1. Guarda um pouco pra mim...
    Saudades...
    Beijos

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  2. "pela primeira vez, não senti medo e caí rápido no sono" deve ser um ótimo presságio :]

    é tão bom te ler ^^

    abraços gordos \_O_/ s2

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  3. vc já deve ter falado isso, mas são quantas horas de diferença, Joh? e, outra, eu sempre te vejo online no skype mas ficava imaginando que vc estaria num love skypeano com o Pedro e nunca dei alô. dá próxima vez eu me arrisco! :)

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  4. são cinco horas a mais aqui! e, pru, uso o skype basicamente pra conversar com os meus pais. é você que fica num love skypeano com o douglas, que eu sei! hahaha!

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  5. IUAHuaHIUAHiuaHiuaHuh Joh comeu um "D"oner

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  6. "um legítimo cappuccino italino" também não, né! (embora eu não duvide que eu acabe gostando mais do cappuccino de saquinho do que do legítimo, quando provar)

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  7. A Julia da minha sala tinha perguntado ontem sobre o dialeto... que engraçado! vô falar pra ela te ler. que o Daniel já acompanha, ele me disse hoje! Ah, eu não tenho tantas novidades pra mandar e-mail. e falei com você ontem! :~~
    Teamo muito.

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  8. HUahuahaHAHaHAhaHA Não te vi online esses dias, mas saiba que agora, toda vez que te ver, vo encher o saco e falar "oi", mesmo sabendo que você pode estar falando com mais um milhão de pessoas e mais uma falando com vc vai ser um saco, pode acreditar! uhahuahuahua

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  9. Não vou comentar nada de interessante, eu acho. Quando você descreve os lugares, minha capacidade de escrever é afetada pelo excesso de coisas que imagino. Parece outro mundo, hehe!

    Mas fica tranquila, Joh. Sei que muuuuuuuita gente não vai te esquecer e esse vazio vai passar e você vai vir contar pra gente de como já está se sentindo bem e em casa!

    BJO

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  10. outro retweet :P

    RT @LariReis Mas fica tranquila, Joh. Sei que muuuuuuuita gente não vai te esquecer e esse vazio vai passar e você vai vir contar pra gente de como já está se sentindo bem e em casa!

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  11. Vou colecionar todas as sensações de quando te leio e depois te falo. Fico vendo aqui o "depoimento": "magrelo, se puder, traz o que for beber já gelado, porque a tina com gelo demoooora a gelar se a bebida estiver na temperatura ambiente! ok? beijos e até mais tarde!"

    e agora você está aí, e esses sites e parafernálias de relacionamento podiam criar, no mínimo, hologramas com cheiro e tato!

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  12. Com tanta gente comentando aqui, isso de abandono pareceu doce, hein! Mas tudo bem! Sei que vc é mesmo docinha (rs) e que os ares alemães te devem estar afetando! É já que passa! Espero que, então, e depois, os ares brasileiros não te afetem senão com afeto!
    Beijo, fiota!

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  13. Capricha na aula com o Charly!
    Quero ver ele falando português da próxima vez aqui em BH...!
    E cuida bem dos jardins daí para depois cuidar dos daqui...


    Bjão

    Papai e Mamãe

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  14. Joh, cê acredita que eu pensei em te ligar hoje!
    daí, lembrei que você tá aí! minha ficha ainda não caiu que você não tá mais na rua ao lado...
    saudadee!!

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