sábado, 25 de dezembro de 2010

E então é Natal...


Ninguém me contou que um white Christmas começava com uma caminhada de quarenta minutos sob uma tempestade de neve logo pela manhã. Foi assim que fui parar ontem na estação de trem, depois de uma ligação do Charly me avisando que os ônibus não estavam passando e que eu teria que ir a pé. Andando da direção contrária da neve, meu guarda-chuva já não servia para nada. Mesmo assim fui caminhando, sentindo o vento gelado cortando meu rosto (já disse que aposentei o blush?) e me lembrando da conversa pelo Skype bem cedinho com a família, que tomava café da manhã feliz da vida. Como eu queria estar com eles, comer um pão francês e uma salada de frutas!

Já que não havia como, enfrentei a tempestade para estar com a família que me acolheu tão bem aqui. Fui até Wemmetsweiler, dei um abraço apertado na Gabi, no Charly e no Christian, aguardando o que viria a seguir, já que nunca passei Natal fora de casa. Não sei como outras famílias celebram a data, não sei o que comem, não sei quando é a hora de trocar presentes.

Sei que lá em casa sempre tem a ansiedade de acordar cedo na manhã de Natal e olhar os presentes debaixo da árvore, que tomamos café da manhã juntos, que a mamãe se estressa preparando mil tipos diferentes de comida para levar para a casa da vovó - e mesmo assim adora. Na casa da vovó, a família toda se reúne, ri muito, bebe mais ainda. Meu pai toca violão, meu tio Edinho canta junto com a tia Sandra, enquanto a minha vó se emociona e o tio Nando solta uma risada larga e a Lindinha dele fica cheia de chamegos. E aí, mais tarde, o tio Paulinho tira todo mundo para dançar forró, o tio Eduardo mata todo mundo de rir, o tio Lu faz churrasco e fala mal do meu time, apoiado pelo Bruno. A tia Fafati conta casos, ri alto e leva a perdição em uma sacola vermelha para as mulheres da família. O vovô fica sentadinho, admirando tudo com suas bochechas rosadas. Enquanto isso, nós comemos. Comemos muito. E deixamos um espacinho para o arroz doce, o pudim de leite condensado, o sorvete, a ambrosia, a mousse de chocolate, a de maracujá... E sempre cabe mais um pouco. Sempre cabe mais cachaça, cerveja e amor.

Aqui? Aqui eu não fazia ideia de como seria. Preciso confessar que me incomodou o fato de ser tudo tão silencioso. Até certa hora, não teve música, quase não teve conversa. De vez em quando, o silêncio era entrecortado por uma tentativa do Christian de puxar papo com o avô, que está passando por uma fase difícil... O Charly e a Gabi não pouparam sorrisos, apesar disso. Depois do jantar - que teve sopinha de legumes (delícia), carne de coelho (eca), batatas cozidas ao molho de cebola, repolho roxo e mousse de maçã, com Herrencreme para a sobremesa - o momento mais aguardado, a tradição da família. A Gabi empurrou todo mundo para o quarto do Christian e nos trancou lá dentro. De repente, um sininho soou, o que significa que o Christkind (um espírito natalino) passou e deixou presentes na árvore. E aí, a árvore se iluminou toda, assim como o olhar de todos eles. O avô, antes tão sisudo, chorou. Todos se abraçaram e ficamos por alguns longos minutos admirando a árvore, em silêncio. Então fui surpreendida: ganhei um cartão, um vale-compra de uma livraria, uma bola de natal lindinha cheia de bombons de marzipan dentro e uma sacola lotada de chocolatezinhos, com uma banana, uma maçã e uma mexerica. Não entendi os três últimos ítens, mas ri e agradeci assim mesmo.

Charly e Christian tentando decifrar o manual do filtro de aquário.


Depois de tanta comoção, fui assistir TV: Ponte para Terabítia. Ninguém entendeu que não era propriamente um filme de criança e eu tive que ficar explicando as coisas. Mais tarde, meu dente começou a doer muito e fui dormir, pensando em como seria se eu estivesse em casa.

Hoje? Voltei para casa a pé também, sem poder contar com a solidariedade de um motorista sequer para me dar carona. O frio hoje está cruel. Passei o dia todo sem vontade de sair. Lavei as roupas e passei o resto do dia comendo, o que ajuda a explicar o porquê de agora eu estar pesando 48kg (saí do Brasil com 41). Agora à noite, me vesti toda para ir à casa da Michelle, para fazermos biscoitos natalinos e nos prestarmos um pouco de companhia. Esperei por 40 minutos e o ônibus não veio. Então agora, com as bochechas vermelhas, queimadas pelo frio, espero por alguém (que nunca virá) com quem passar a noite de Natal. Não estou morrendo de tristeza, só para ficar claro. Digamos que é mais apropriado constatar uma fossa natalina, que amanhã passa rapidinho. Ainda mais com a proximidade da chegada da Tai, que vai afastar qualquer resquício de depressão que possa, algum dia, ter entrado pela porta do meu apartamento.

Tinha um lago congelado no meu caminho.

Por enquanto, desejo mesmo que todos vocês tenham tido um Natal realmente feliz! Que vocês tenham valorizado suas famílias. Se não, que o façam amanhã. E depois. Mesmo que não seja Natal. Abraços apertados (e gordinhos) da terra gelada!

6 comentários:

  1. Posso dizer que meus dias de natal (que rendem com duas famílias numerosas) foram repletos de abraços (chorosos - pelo natal e pela minha partida). Estou pronta (e ansiosa) para a minha (maluca) empreitada, com um dicionário de alemão com 2000 verbetes e um livro de Onde está Wally? que eu ganhei pra me distrair no voo. Te amo dorme bem e me aguarde, que eu chego logo.

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  2. É talento importante o de achar consolo no vindouro, sobretudo o vindouro iminente, não é mesmo! Abraço, fiota! TAÍ uma boa razão pra se alegrar!
    Beijo!

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  3. Esse ano tive um Natal ótimo, mesmo com coisas estranhas acontecendo por aqui... Lembrei de você, do meu primo e da minha tia que também estão fora do país (cada um num canto) e pensei no quanto seria difícil para mim passar o Natal longe da minha família. Espero que a fossa natalina tenha passado ;*

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  4. Ai Joh... vc me matou de chorar e me emocionar...
    te amo bonequinha! Mamãe

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  5. Preferiria ficar no anonimato agora...me desculpe por não ter comentado antes sobre o que vc vivenciou aí minha filha linda. Só sinto não ter estado juntinho contigo e até mesmo com a sua mãe e com o Anginho...Teria sido possível, independente até dos compromissos de trabalho aqui...mas não deu (:<).
    Sei que virão outras oportunidades, se Deus quiser!
    Te amo muito
    (:>)

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