sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Viva Colônia (e o Gogol Bordello)!

Acordei às seis da manhã no último sábado. Lavei a louça, ajeitei o apartamento e coloquei mil camadas de roupa para me proteger do frio. Botei logo o nariz na rua, para não perder a coragem. Esperei alguns longos minutos no ponto de ônibus e me dirigi para a estação central de trens, onde encontraria o Emilio, a Michelle, a Francesca e o Ian, para irmos juntos a Colônia. Eis, chegando lá, uma movimentação estranha. Todas as pessoas esperavam do lado de fora da estação fechada, cercada por uma fita verde, da mesma cor dos vários carros de polícia que lá estavam estacionados. Ao lado deles, policiais empunhando metralhadoras. Alerta de bomba e ataque terrorista. Nunca pensei que fosse vivenciar isso aqui, nessa cidadezinha tão pequena e politicamente insignificante (que me perdoem os moradores daqui). Perdemos o trem e conseguimos chegar em Colônia depois de 6 horas, alguns cafés, cochilos, tangerinas, livros, conversas agradáveis e discussões sobre política.

Descendo do trem em Colônia, a visão imediata da Catedral. IMENSA! Nunca vi igreja maior. Como se não bastasse, é maravilhosamente esculpida em cada detalhe. É de se perder diante de tanta genialidade. Só de pensar que ela sobreviveu a 14 ataques de bombas aéreas e permaneceu de pé! Fizemos um longo e demorado passeio por dentro da catedral, admirando detalhes - eu, sobretudo, admirei a fé das pessoas que acendiam velas, ajoelhavam-se e prostravam-se diante das imagens com tanto fervor, ignorando os flashes das câmeras dos turistas embasbacados. Não acredito na igreja, mas acredito na fé das pessoas.


Saindo da igreja gelada, fomos passear por Colônia, igualmente (ou até mais) gelada. Ventava muito e caía uma chuvinha bem fina, daquelas chatas e das quais não se pode esconder sob um guarda-chuvas. Não tínhamos muito tempo até a hora do show do Gogol Bordello, então optamos por um passeio rápido no Weihnachtsmarkt am Kölner Dom (Mercado de Natal da Catedral de Colônia), onde bebi um Glühwein e me lembrei muitas vezes da minha mãe, pela variedade de enfeites de Natal. A essa altura já não estávamos mais com a Francesca e o Emilio, que haviam se encontrado com outros amigos italianos que moram lá. Então, fomos eu, Ian e Michelle para a Früh, a cervejaria mais famosa de Colônia. Eles beberam uma cerveja e fomos, então, procurar o local do show.

Não foi muito fácil achar. Perdidos em uma cidade grande (mal-acostumados moradores de Saarbrücken), andando de um lado para o outro e errando direções nas ruas. Finalmente encontramos o lugar e enfrentamos uma fila enorme debaixo de vento e chuva. Eu tinha certeza de que valeria a pena. Ao entrarmos, pude logo perceber que teria a chance de vê-los bem de perto, porque o lugar era pequeno. Seria um show intimista, daqueles que a banda se aproxima da platéia. E, de fato, foi. Começou com DeVotchKa, uma outra banda da qual eu realmente gosto. Infelizmente, pegamos só as três últimas músicas, devido à fila enorme para guardar as milhares de roupas de inverno. Tivemos, porém, a oportunidade de ouvi-los e vê-los estando bem de frente para o palco, já que as outras pessoas pareciam indiferentes à banda de abertura. Foi lindo, de arrepiar.

O único problema foi a minha ilusão de que os alemães eram mesmo super fãs do seu próprio espaço pessoal e que o show do Gogol Bordello seria como o do DeVotchKa. Ledo engano. Eu estava até achando bem estranho que todos estivessem me deixando passar. Já estava quase na grade, quando o show começou. Uma vibração absurda tomou conta do lugar. Conheci, então, uma faceta dos alemães que ainda me era incógnita: eles sabem ser animalescos. Foi cotovelada para todas as direções, enquanto uma onda de pessoas avançavam para o palco. Não é exagero: eu pensei que morreria quando um OGRO que estava ao meu lado enfiou com vontade o cotovelo no meu pescoço. Mas, ao mesmo tempo, tomou conta de mim uma energia vital impressionante. Eu pulava junto com a multidão enquanto via o Eugene e o Sergey bem na minha cara. Tudo girava, a música penetrava os meus ouvidos e eu entrei em êxtase. Mal podia acreditar que era mesmo o Gogol Bordello, que era mesmo Colônia, que era mesmo eu que estava vivendo aquilo tudo. Passados os primeiros momentos de empolgação extrema, caí na real e percebi que realmente corria risco de morrer se continuasse na grade, disputando meu metro quadrado com um cara bigodudo de dois metros de altura. Fui para a lateral, de onde também podia ver muito bem, e ali dancei feito louca. Cantei alto todas as músicas, perdi a voz, perdi o controle e esqueci do mundo. Suei em bicas, tive uma dor horrorosa na panturrilha no dia seguinte e fiquei literalmente destruída. Digo, apesar disso, que foi o melhor show da minha vida. Delírio. Sem contar as horas em que eu usei a língua portuguesa como instrumento de catarse e gritei bem alto coisas que ninguém entenderia (ou quase ninguém. Descobri, no dia seguinte, que o Eugene - vocalista da banda - já tinha morado no Brasil e falava português). O ponto auge do show foi, inclusive, uma hora em que ele disse que tocariam uma versão gypsy-punk-sambatronic de uma música e eu gritei: "SAMBAAAA!" e o Eugene RESPONDEU: "let's see if you can dance samba, then!" e eu enlouqueci. Foi mesmo catártico.


E aí, depois do show, eu estava estragada. Não conseguia andar, conversar nem reagir a nada. Fiquei entorpecida e só conseguia sorrir. Fomos, de lá, procurar o Emilio, a Francesca e seus amigos italianos. Voltamos para a Früh e ficamos lá até fechar. De lá, direto para a estação central, onde pegaríamos o trem somente às seis da manhã. Exausta, deitei no banquinho da padaria e dormi feito um bebê. Algumas horas depois, estava de volta a Saarbrücken, onde passei o resto do fim de semana dormindo e me reidratando, tomando cuidado para não acabar ainda mais com a minha panturrilha. Em uma palavra? SUBLIME.

4 comentários:

  1. Uma frase????
    estou encanada com sua estadia na alemanha

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  2. Essa semana vai ser a mais longa da minha vida até agora. E tenho dito.

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  3. Boneca,
    obrigada por se lembrar de mim em meio aos enfeites de natal... este ano nossa árvore foi a menorzinha, porque meu espírito está assim. Sinto sua falta.
    Qto ao show, parece mesmo que aproveitou!!! É assim que se vive! Bjs. Mamãe

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  4. Você é linda! Quanta coisa bacana você deve estar vivendo. Tô com saudade...

    Sabe... Vai chegar de qualquer jeito, então que demore! Porque assim dá tempo de aproveitar mais, ainda que seja aproveitar a vontade, a vontade louca de que "passe logo".

    Beijoca.

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