terça-feira, 12 de outubro de 2010

Feira do Livro em Frankfurt e roupa lavada.

Acho que posso dizer que hoje foi, oficialmente, o meu primeiro dia das crianças como uma verdadeira adulta. Há alguns anos já não ganho presentes nem comemoro a data (salvo a minha penúltima ida à Brasília, quando brinquei de achar doces no quintal com os priminhos do Pedro), mas hoje precisei cozinhar, lavar louça e roupas. A única parte do dia que realmente simbolizou a infância foi colocar antisséptico nos machucados nos meus dedos, causados pela lavagem de meias à mão. Tinha me esquecido do tanto que ardia cuidar de uns raladinhos à toa. Ah, o bom e velho Merthiolate, salvando-nos das infecções e permitindo-nos inúmeras quedas de bicicleta!

Bom, indo ao fim de semana. Preciso confessar que não aproveitei tanto quanto deveria. A sexta-feira estava ensolarada e eu fiquei o dia todo em casa, sofrendo os efeitos da distância e da saudade. E ainda caí na besteira de assistir "Cartas para Julieta" e chorei do começo ao fim, lamentando a ausência do meu amado e de pessoas que penteiem meu cabelo ou me abracem. Sinceramente, não sei como as pessoas por aqui conseguem viver bem sem um abraço ou um sorriso. Todos os dias, sem desistir, sorrio para o motorista do ônibus ou para a moça do Mensa. Ninguém sorri de volta. Pelo menos um abraço da Michelle eu ganho de vez em quando, depois de ter explicitado o valor de um carinho para um brasileiro. Enfim, conversei um pouco com os meus pais e importunei alguns dos meus amigos com mais uma crise de carência, que dessa vez não estava relacionada à TPM, mas à real ausência de carinho. Não é estereótipo. Europeus SÃO frios. Depois de muito chorar, tomei atitude semelhante à das mulheres que compram sapatos para curar depressão: comprei uma passagem de avião. Para onde? Itália. Vou para Bologna em dezembro visitar o Alexandre. Serão cinco dias na cidade dos pórticos e da terracota, visitando um amigo querido, degustando vinhos e cappuccinos legítimos, deliciando-me com massas, pesto e ares italianos. Aproveitando a proximidade e o preço amigável dos trens, vou visitar Verona, a cidade de Romeu e Julieta e dos muitos monumentos antigos. Como se não bastasse, vou ao show do Kings of Leon em Bologna! Não é muito melhor do que comprar sapatos?

Sábado acordei com olhos inchados e dor de cabeça, sintomas típicos de ressaca de choro. Decidi que não podia ficar assim para sempre e convidei a Michelle para um café no centro. Fomos a quase todos as confeitarias e padarias à procura de tortas como as feitas em Pushing Daisies, porque eu tenho assistido ao seriado freneticamente e fico cada vez mais aguada por uma torta do Pie Hole, que não existe. O mais parecido que encontramos foi uma Apfeltasche, uma massa triangular recheada de maçã e passas. Comi duas, de olhos fechados, fingindo ser uma torta. A vontade não passou, mas a situação ridícula me fez sorrir um pouco. Depois disso, fomos passear nas lojas para ver as roupas em promoção, mas não comprei nenhuma, pensando nas minhas futuras viagens. Voltei para casa um pouco mais animada, mas fui dormir triste, pelo mesmo motivo de sexta. Dormi cedo, pensando que a viagem do dia seguinte, para Frankfurt, me alegraria.

Em pleno domingo, estava de pé às seis da manhã, fazendo café mecanicamente. A temperatura estava por volta de 5ºC, eu não sabia e saí de casa despreparada, com apenas (!) três blusas de frio. Chegando no ponto de encontro dos estudantes que iriam para a excursão (me senti tão no colégio com isso de excursão!), todo mundo estava com casacos imensos, cachecóis e chapéus. Ha-ha. Brasileira-novata-que-não-sabe-se-proteger-do-frio. Passadas algumas horas, porém, todos os meus coleguinhas carregavam seus pesados casacos e eu estava feliz com a ausência do meu. A viagem levou duas horas e, chegando na Buchmesse (Feira do Livro), que era o objetivo da nossa viagem de nerds, todos os sessenta excursionistas se separaram e lá se foram minhas esperanças de fazer novos amigos. Rumei sozinha para o pavilhão de literatura e fiquei embasbacada diante da variedade de livros. A minha parte favorita, todavia, não foi exatamente a de livros de literatura, como pensei que seria. A menina dos meus olhos foi a seção de arte. Muitos cartões postais incrivelmente lindos e criativos, livros imensos de fotografia... Queria ter levado algum para casa, mas fui sensata e me lembrei que as malas de volta para o Brasil têm limite de peso. Então, me restringi a comprar alguns postais e um livro solitário no pavilhão de língua francesa: Chats. É feito para amantes de gatos e é constituído de informações e dicas para quem quer cuidar dos bichinhos. Mas o que realmente me fez comprá-lo foram as fotos e o fato de que é um livro animado: há bolsinhos com outros livretinhos dentro, fotos e partes secretas que se abrem e revelam um mundo inteirinho de gatos. E o melhor: a moça que me atendeu não falava alemão, então realizei a compra toda em francês.




Depois de cinco horas passeando pela feira, comecei a morrer de fome e, ao procurar por comida, percebi que o público era majoritariamente carnívoro e a única opção para mim era... bretzel. Comi um e devorei o pacotinho de lanche que tínhamos recebido do pessoal da faculdade. Fiquei me sentindo meio estranha e minha cabeça doeu quase que imediatamente depois de tomar um iogurte de morango. Lembrei-me, de repente, que o nosso ônibus saía às três rumo à cidade para um passeio guiado. Saí desembestada à procura do estacionamento e fiquei perdida na feira. Por mais que pedisse informação, parecia que estava andando em círculos e a dor de cabeça foi pesando e aumentando. Quase desisti de encontrar o ônibus, que voltaria dali a três horas para buscar quem tivesse optado por ficar na feira. Mas, na última tentativa, encontrei meus colegas excursionistas. Sorridentes, eles fumavam do lado de fora do ônibus, atrasando a partida. Ainda bem.

O passeio guiado me irritou muito. Ficamos dentro do ônibus durante uma hora e meia, enquanto uma mulher não parava de tagarelar coisas como: "à direita, um banco. À esquerda, o maior centro comercial de Frankfurt". Raramente ela comentava sobre os monumentos históricos. Uma hora ela apontou rapidamente para a casa do Goethe e ignorou a estátua de Schiller, que brilhava à nossa frente. Eu mereço. A minha sorte foi que um alemão sentou ao meu lado e foi me explicando sobre as coisas que me interessavam. Saímos do ônibus por apenas vinte minutos, o que significa que tirei pouquíssimas fotos.




Voltando para Saarbrücken, eu só queria saber de banho e cama. O dia havia sido extremamente cansativo. Achei Frankfurt uma cidade bonita, mas dispensaria com tranquilidade a mulher tagarela e teria ficado mais feliz se tivesse comido algo decente durante o dia. Minha cabeça queria explodir e não melhorou quando cheguei em casa e me irritei com coisas bobas. Dormir logo era o melhor que eu podia fazer. Tudo que eu mais queria era voltar para o Brasil, naquela hora mesmo. Levei muita bronca dos meus amigos quando eles descobriram isso. Mas, gente, eu só queria uma sopinha e um cafuné. É pedir demais?

Ontem saí de casa para resolver pendências domésticas e fui surpreendida por um ato de carinho (finalmente!): na minha caixa de correios, um livrinho de receitas vegetarianas em alemão e um bilhetinho fofo. Vinham ambos da Lud, a outra brasileira da UFMG que chegou semana passada aqui. Eram agradecimento pela ajuda oferecida na primeira semana dela aqui. Isso me proporcionou o famoso calorzinho no coração e me fez encarar o dia de um jeito diferente. E hoje? Bom, já contei no começo do post sobre o meu lerê-lerê e só tenho a declarar que morri de medo da máquina de lavar. Pensei que ela fosse levantar voo a qualquer momento, tamanha turbulência ela demonstrava. E agora tenho um varal no meu quarto, cheio de roupas que provavelmente vão demorar a secar. A situação não está muito bonita, mas pelo menos tenho roupas limpas para o meu fim de semana em Barcelona! Já é sábado agora. Ainda parece meio irreal, então não sei que tipo de expectativa criar. Talvez seja melhor assim! Volto depois com novidades catalãs e com fotos do mar.



10 comentários:

  1. Aqui vai um abraço do tamanho do mundo! \@/ Teria adorado ir nessa feira com você!

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  2. e, mais uma vez, o dia foi salvo, graças aos fumantes super poderosas! ahahhaha

    eu vou querer muito mesmo ver esse livro fantástico de gatinhos!!! \o/ que delícia, joh! vc vai pra barcelona!!!!!

    fica feliz ow, daqui a pouco o intercambio acaba e vc vai voltar pensando que podia aproveitar mais! tá td mundo aqui com saudade de vc tb, e logo logo vai ter fila de gente querendo te dar vários abraços, a ponto de vc se sentir tao sufocada que vai querer pegar o aviao de volta! :P

    feliiiiizzz dia das crianças de adulto!!! e pense pelo lado bom: vc nao ta doente no feriado :(

    beijao!!

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  3. Eu vi o livro na webcam lalala!

    Acho que consigo imaginar a falta que faz o abraço, e um sentimento qualquer de carinho.
    Mas nunca se esqueça que você está recebendo constantes abraços a distância de todos nós aqui!

    beijos joh
    :*

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  4. To no Skype com um cara cujo gato começou a miar loucamente na hora que eu tava vendo as fotos do seu livro de gatos.

    LOL STUPID COINCIDENCES

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  5. Oi Joh!
    Fique feliz no dia das crianças,...não as deixamos de ser nunca...!
    Carinho, sempre vai ter o nosso,..abraços - busque aí mesmo,..."todos os dias, sem desistir"...
    Bjão e abração do seu Pai.

    Presente especial de hoje de Cecília Meireles:

    ----------------
    Sonhos da menina


    A flor com que a menina sonha
    está no sonho?
    ou na fronha?

    Sonho
    risonho:

    O vento sozinho
    no seu carrinho.

    De que tamanho
    seria o rebanho?

    A vizinha
    apanha
    a sombrinha
    de teia de aranha . . .

    Na lua há um ninho
    de passarinho.

    A lua com que a menina sonha
    é o linho do sonho
    ou a lua da fronha?
    -------------------

    Otro bjo...

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  6. #fuckyeah tirei três semanas de atraso numa tacada só xD

    e te contar: isso aqui super podia ter virado um livro. li cinco posts seguidos, e foi uma delícia! sério, parecia um livro mesmo, uma narrativa super gostosa, com um estilo de escrita super... hm... super Joh ;D (L)

    deixo comentários avulsos sobre os posts passados pra serem feitos no msn.

    http://midia.iplay.com.br/Imagens/Fotos/008141.jpg

    te amo e tô com saudade - ambas coisas boas :)***

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  7. Don't Carrie your Bradshaw around!
    Claro que o show é muito melhor!
    Quer saber? I wish I was in your shoes, babe!
    And as far as brazilian hugs are concerned, tô com a Stela: quero ver você ter coragem de quebrar sua popotinha na chegada! Dá-lhe!
    E como diria a Julia Roberts: "God bless the brazilian!"

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  8. ah vc é muito bonitinha. eu fico sempre ou meio besta ou meio emocionada quando leio seus posts. hj eu fiquei emocionada :)

    bejitos!

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  9. joyce querida, é sempre uma emoção ler a sua narrativa. é um deleite! fico imaginando suas pequenas aventuras que sempre dão a impressão de serem grandes, pois são intensas e profundas. estou me divertindo muito. Dever ter sido otimo conhecer frankfurt, mesmo da forma que foi! E ainda tem barcelona, e depois em dezembro italia, nossa que maravilha, que inveja branca! Conheci verona quando estava gravida do pedro. Tirei uma foto na sacada da julieta, adorei! Acho que o alexandre ainda não foi para bolgna, se quiser alguma coisa do Brasil me fale, e não deixe de programar o encontro ou quem sabe a estadia na casa do andré em berlin, viu?
    aproveitando a carona dos dias da crianças (sempre dentro de nós) segue um poema para seu delírio!!!
    "No descomeço era o verbo.
    Só depois é que veio o delírio do verbo.
    o delírio do verbo estava no começo, lá onde a
    criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
    A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para a cor, mas para som.
    Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
    E pois.
    Em poesia que é a voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos-
    O verbo tem que pegar delírio." (Manoel de Barros)
    beijim,

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  10. Joh! Desde que você viajou, eu fiquei pensando no quanto ia ser díficil para mim se eu tivesse viajado para um lugar longe também. Tenho certeza que morreria de saudades logo na primeira noite. Mas não desiste e quando você estiver na Itália, lembre-se de mim. Um dia realizo o sonho e vou lá!

    Um abraço graaaaaaaande, com muito carinho!
    Espero que ajude, hehe ;D

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