domingo, 16 de janeiro de 2011

Paris - como se fosse a primeira vez.

Mas Paris de novo? Sim. De novo e quantas vezes mais a vida me permitir. Eu falava sério quando disse que tinha me apaixonado pela cidade. Além disso, não vi a mesma Paris dessa vez, assim como não creio que a verei da mesma forma da próxima. Ela se movimenta, flui e se renova, se colore em várias nuances e continua sendo maravilhosa em cada metro quadrado.

Dessa vez, para já começar diferente, escolhi ir de ônibus ao invés de trem. Dessa vez a companhia foi outra também. A Tai e eu fomos bem tarde da noite para o ponto de encontro da companhia de ônibus. Esperamos durante mais de uma hora sob chuva e com frio, sozinhas nos arredores do cemitério principal da cidade, que fica na rua da fronteira com a França, à meia noite. Ninguém mais apareceu, o que nos deixou em dúvida quanto a estarmos no lugar certo. Pensamos que o ônibus não viria e eu já comecei a rascunhar, na cabeça, um post frustrado para o blog. Pensei logo em processar a Eurolines para ganhar dinheiro suficiente para visitar Paris quantas vezes eu quisesse. Acho que sentiram a vibração poderosa das minhas ameaças e enviaram o ônibus rapidinho e, de quebra, com um motorista simpático e sorridente, que me fez esquecer depressa a raiva.

Quase não consegui dormir no ônibus. Não sei se pela ansiedade, pelo desconforto ou se pela falta de tempo, uma vez que o ônibus chegou duas horas antes do previsto, resumindo o nosso trajeto a cinco horas de viagem, incluindo uma pausa de uma hora inteira em Metz. Chegamos cedo demais e todos os estabelecimentos estavam fechados. Mesmo receando abusar demais da hospitalidade da Mariana, que nos ofereceu abrigo, fomos direto para a casa dela antes mesmo de o sol nascer. Chegando lá, a melhor recepção possível, mesmo que sonolenta. Dormimos um pouco, a fim de nos prepararmos para o dia que raiava. A surpresa? A temperatura subiu o bastante para que eliminássemos algumas muitas camadas de roupa e o sol até se arriscou a aparecer, pouco a pouco, entre as nuvens negras e o chuvisco fino que lavava a cidade.

Animadas pelos 12ºC, nos vestimos e saímos logo para conhecer (sim, o verbo sempre será "conhecer") Paris. Já planejei logo a nossa sexta-feira em silêncio, ousando e me permitindo certa intimidade com a metrópole. Quanta ingenuidade pensar que já a conhecia! Mesmo visitando novamente o Arco do Triunfo e de dar seguimento caminhando a Champs-Élysées inteira, até atravessar a Ponte Alexandre e dar de cara com o Louvre de um lado e a Praça dos Inválidos do outro, vi tudo de maneira diferente. O Sena, para começo de conversa, corria ainda mais forte, encorpado pelo volume das chuvas. Em segundo lugar, escolhemos atravessar a ponte e descobrir o que era o prédio suntuoso e dourado que brilhava do outro lado: o Museu do Exército, na Praça dos Inválidos. Aproveitando o fato de ser menor de 26 anos e residente da Europa, entrei de graça e ainda consegui sem querer um ingresso para a Tai, porque me embolei no francês e acabei falando que ela também era estudante da Alemanha. O museu é, para variar, enorme e nos perdemos lá dentro. Depois de cair a ficha de que estávamos lá dentro há horas e que nossos estômagos reclamavam de muita fome, fomos procurar o túmulo de Napoleão I para podermos sair dalí e comer. O túmulo é um monumento imenso e luxuoso, para fazer jus a seu defundo megalomaníaco. Não tem cara de cripta, mas de um cofre que guarda algo valioso. De lá, andamos aquela região inteira de Paris atrás de comida e, como só encontramos restaurantes caríssimos, acabamos nos enfurnando no Mc Donald's do Louvre para recarga de energia. Enquanto a Tai lia, eu tirei um cochilo nada elegante na praça de alimentação do museu mais famoso do mundo. Mesmo não me sentindo muito bem, fomos passear no Louvre (mais uma vez, de graça) e vi galerias diferentes das que havia visto em novembro. Não deu para evitar a minúscula Monalisa, já que a Tai queria vê-la, mas no meio do caminho vi a Vênus de Milo e fiquei feliz. Depois do Louvre, um cansaço extremo. Dormi no metrô a caminho da Torre Eiffel, onde ficamos por breves 15 minutos, já que ela não impressionou a Tai e eu estava louca para tomar um banho e dormir. Chegando na Rue Charlot, onde estávamos hospedadas, uma surpresinha pra lá de gostosa: arroz, feijão, angu e carne seca (a qual dispensei) - comidinha mineira cozinhada pela nossa atenciosa anfitriã. Depois de um banho bom e da comida reconfortante, pude - pela primeira vez no intercâmbio - ligar para os meus pais e meus avós de um telefone de verdade. Fui dormir exausta, mas feliz.

Sábado acordamos um pouco mais tarde do que o previsto. Acho que a viagem de ônibus, por mais curta que tenha sido, realmente conseguiu nos exaurir. Apesar disso, quase todos os nossos planos para o dia conseguiram se concretizar. Para dar início ao dia, fomos ao Centre Pompidou. Para quem nunca ouviu falar, é um prédio às avessas: de fora pode-se ver todas as tubulações, os fios, os elevadores e escadas rolantes. Não podia haver lugar mais apropriado para exposições de arte moderna e contemporânea. Fiquei perdida no meio de tantas obras interessantes e malucas e me senti lisonjeada de poder posar ao lado da obra mais célebre de Duchamp. De lá, fomos procurar a Catedral de Notre Dame e fomos enganadas pelas placas esquisitas de Paris. Muita volta depois, encontramos a igreja - fechada. Só abriria depois de uma hora e já estávamos atrasadas para encontrar a Rê (amiga também mineira da Mariana) nas escadarias da Sacre Coeur. Finalmente reveria o Montmartre, meu bairro preferido em Paris. Subimos o funicular e, na Sacre Coeur, algo inusitado: a igreja estava lotada, devido a confirmação de votos de algumas freiras. Assistimos à cerimônia e à troca de véus. Foi bem interessante. Depois da Sacre Coeur, fomos descendo as ruelas do bairro, procurando souvenirs e curtindo o clima gostoso do bairro. Já na Avenida de Clichy, nos divertimos observando a variedade de Sex Shops, até chegarmos aos cabarés para vermos o Moulin Rouge, enquanto Paris anoitecia. Assim como a Monalisa, o Moulin Rouge também é pequenininho e deixa a desejar. Um dia ainda consigo dinheiro para assistir a um espetáculo, porque acho que só isso superaria as minhas expectativas quanto ao lugar. Saindo do Moulin Rouge, começamos a procurar o Café des 2 Moulins, o bar de Amélie Poulin. Foi uma sensação muito gostosa poder sentar lá e jogar conversa fora com as meninas, enquanto identificava cada pedacinho do filme acontecendo no bar. Até ir ao banheiro foi bom. Lá, uma vitrine com os objetos utilizados na filmagem e a memória da cena de amor da hipocondríaca Georgette e seu homem do gravador. Saindo de lá, meio entorpecida pela vivência do cenário do meu filme preferido, esqueci que tinha planejado ir ao Museu do Dalí. Voltamos para casa, comemos strogonoff (também o primeiro desde agosto) e sorvete de chocolate e fofocamos, as quatro mulheres, até tarde.

Domingo fomos a Versailles. O céu estava muito azul e o sol acentuava ainda mais as cores de Paris. Escolhemos, então, ir até a estação do Montparnasse de ônibus ao invés de metrô, para podermos admirar a cidade. Dentro do ônibus, bebês fofinhos sorriram para nós e uma velhinha insistiu em puxar assunto com a Tai, não importando quantas vezes ela falasse "je ne parle pas français". Foi engraçado. Pegamos o trem rumo a Versailles e o caminho foi delicioso. Invadida pelo sol e pelas músicas do Beirut no celular da Tai, senti o famoso calorzinho na alma. Para entrar no Palácio, porém, uma fila grande que chegava a desanimar, mas mais uma vez não precisei pagar - e isso renova qualquer ânimo. Andamos por mais de três horas nos jardins deslumbrantes do castelo, aproveitando o sol. Vimos labirintos, lagos, plantas, os domínios de Maria Antonieta, os escritórios de Luis XIV e os do Napoleão, a fazenda do palácio, a casa de veraneio e tudo é encantador. Preciso confessar, porém, que o palácio em si é bem... brega. É muita informação: tem brilho, ouro, diamante, espelho e seda no chão, nos móveis, nas paredes, no teto. Não sei como alguém consegue viver (ou acordar de ressaca, como bem lembrou a Rê) no meio de tanto brilho. Enfim. Saímos de lá já bem tarde, comemos algo, voltamos para Paris e fizemos as malas. Era hora de voltar.

Descemos no mesmo ponto de ônibus do cemitério em Saarbrücken, às três da manhã. O nosso refúgio (lê-se: Mc Donalds) estava fechado, assim como todos os bares e o posto de gasolina. E o ônibus para casa só passaria dalí a uma hora e meia. Cansadas e com medo, fomos procurar uma saída. O serviço de táxi da Vodafone estava fora do ar e, por sorte, encontramos um hotel Mercury. Conversei com o recepcionista e pedi para que ele chamasse um táxi para nós. Ele vem da Pérsia e é super legal. Jogamos conversa fora sobre política brasileira e a vida na Alemanha até o táxi chegar. Agradeci muito, nos despedimos e voltamos para casa. Por mais que eu ame Paris, a sensação de deitar na minha cama foi fantástica. Mas já acordei no dia seguinte procurando uma nova data para voltar à capital francesa em fevereiro. Vamos ver se consigo.

Próximo destino: BUDAPESTE. A ansiedade é tanta que já comecei a procurar tutoriais de húngaro no youtube, estou lendo o livro homônimo do Chico Buarque e desde já perturbo o meu vizinho húngaro, pedindo dicas sobre a cidade. Mal posso esperar para ouvir "a única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita" e ver o Danúbio.

6 comentários:

  1. Johhhh paris de novo em fevereiro n... vai pra londresssssssssssss!!!!

    ResponderExcluir
  2. boneca, fiquei feliz demais por vc pelas emoções no bar das filmagens de Amelie! É um sonho que se realiza e vc vai guardar lembranças prá sempre! VIVER!!! VIVER!!! Que bom que tem feito tudo isto! Amo você "munhequinha de vaca!!" (qtas vezes sentiu-se feliz por entrar de graça nos lugares...) bjs e já estou te esperando! Mamãe

    ResponderExcluir
  3. Joh, adoro ler seu blog e a sua intensidade nestas descobertas. Você deve ser uma ótima companhia para viagem.
    Beijos e aproveite bastante enquanto está por aí.
    Geyse

    ResponderExcluir
  4. Essa MAriana tem o melhor hotel da Europa, hein! haha!
    Beijo, fiota turista!

    ResponderExcluir
  5. Foi uma viagem que vai ficar pra sempre aqui <3.
    E você esqueceu (ou não) de comentar sobre a fofura do motorista que morreu de preocupação com a gente na volta, né? adorei ele. Ai, mãe... tá acabando. Vô morrer de saudade (L)

    ResponderExcluir
  6. Eu bem que qeria acordar de ressaca em um castelo cheio de coisas brilhantes...! Mas no fundo, fiquei satisfeito mesmo foi com a comidinha da Mariana (:>) e ter vivido com vc a presença d'Amelie...

    Bjão
    Papai

    ResponderExcluir